Os acasos
da vida não se explicam e por mais que você tente decifrar seus poréns, sempre
haverá uma questão sem resposta, um não entender.
Uns
acreditam em destino, outros se conformam sem muito perguntar, preferindo
acreditar em coincidência.
A verdade
é que diante de uma situação inusitada, todos nós, crentes ou céticos,
admitimos que há uma força maior de que o nosso conhecimento, algo além de
nosso alcance.
Sendo
positivos ou negativos, os acasos da vida terão sempre perguntas e
respostas em aberto.
Como por
exemplo o caso de Alba e Augusto.
Eram
casados há alguns anos, mas ainda sem filhos. Não por falta de tentativas, pois
eram um casal apaixonado.
Os dois
sonhavam com isso. Um filho ou filha, não importava, queriam uma criança
correndo pela casa e fazendo barulho.
Tinham
suas profissões e economizavam para os futuros filhos e ficavam imaginando os
mimos que dariam às crianças que completariam a família deles.
Trariam a
mãe de Alba para ajudar - “vigiar” a babá, melhor dizendo - que cuidaria
do bebê enquanto os dois estivessem no trabalho.
À noite, depois do jantar, sentavam cada um em sua cadeira
de balanço em frente a TV.
Ele vendo
jornal e ela fazendo crochê para o enxoval do herdeiro. Menino ou menina,
tinham garantido o capricho da mamãe zelosa e prendada.
Augusto,
por sua vez, só pensava nos passeios. Se fosse menino, já nasceria com o time
de futebol escolhido. Disso não abria mão.
Discussão
pronta. Alba não admitia que Augusto escolhesse o time
para o filho, sem contar que cada um torcia para um time diferente.
− Não
inventa não, querido. O menino vai ter liberdade nessa casa. Não se intrometa –
Defendia ela a escolha do time do filho ainda não nascido.
Augusto
não arredava o pé.
—Imagina!
Vai que dá o azar de torcer pelo seu time, aí a desordem tá feita. Nem vem! –
Reagia ele.
− Quer
saber? Vamos dormir, antes que a gente comece a brigar – ponderava Alba.
Esse
diálogo era repetido quase todas as noites, era a aconversa favorita
deles.
Deles e da
dona Cecília, mãe de Alba, sua única filha.Tudo que queria na vida era um neto
para deseducar como manda o manual dos avós.
Quase
sempre ligava para checar: e aí, Albinha, nada ainda? Ah, desceu, é? Faz mal
não, querida. Fica para o próximo mês. – Dizia ela cheia de esperança por todos
esses anos.
Numa
manhã, saindo para o trabalho, Alba encontrou em sua porta um pacote. Mais exatamente uma caixa.
Dentro dela o presente tão sonhado: um bebê!
Ficou
louca de alegria. Chamou Augusto gritando eufórica!
− Augusto,
Augusto! Corre aqui depressa! Deus mandou nosso bebê!
Augusto,
sem entender muito, viu a mulher com aquela caixa na mão, quase perdendo o
juízo e tudo que ele fazia era nada!
Não
conseguia articular nenhuma palavra. Nem mesmo sabia o que estava acontecendo
direito. Será que colocaram uma criança na porta deles?
Alba
sentou-se abraçada à caixa e pediu: − chama a mamãe, Augusto, diga que é
urgente!
Augusto
obedeceu sem nem saber como, mas colocou tanto espanto que dona Cecília mas
rápido que um avião pousou na casa da filha em minutos. Veio correndo, morava
não muito longe e nem muito perto.
Mas, para
filho não há distância, não há pedido que não possa ser atendido, e se é caso
de urgência então... não tem o que esperar.
Foi uma
felicidade só! Nem ao menos pensaram em retirar da caixa a criança que já
começava a chorar.
− Olhe,
mamãe, que criança linda! Tem um pedaço de cada um de nós, dizia a mamãe
orgulhosa.
Dona
Cecília, a mais lúcida, embora também muito nervosa, cuidou de retirar o bebê
da caixa e se dedicar aos primeiros cuidados.
− Veja
minha filha, Deus lhe deu uma menina!
− Menina?!
– Perguntaram ao mesmo tempo Alba e Augusto.
Depois de
calmos e refeitos da loucura que a boa surpresa causou, faltava o complemento:
o nome.
Alba
lembrou do combinado. Se fosse menino ele escolheria. Se fosse menina seria
dela a honra da escolha.
Maria! Vai
se chamar Maria, assim como a Mãe de Jesus.
− O que a
senhora acha mamãe?
− Muito
lindo, como a dona. E por que não Maria das Graças? Porque essa menina foi
graça de Deus.
− Está
escolhido. Pronto. Maria das Graças!
Os
vizinhos curiosos perguntavam se eles iriam contar para Maria das Graças, a verdade, já que a
menina era de cor e não parecia com eles.
− De cor?
Que cor? Desde quando gente tem cor? −Se indignava Alba. – Ela é nossa filha e
pronto. Era só o que me faltava, gente que nem sei quem é, vir aqui pôr cor em
minha filha.
Assim
cresceu Gracinha, cheia de mimos. Mandava em todo mundo e não tinha limites.
Quando queria, queria, não importava mais nada.
Quando
Gracinha completou oito anos nasceu Lúcia, a filha biológica. Veio assim, na
hora que quis.
Foi uma
alegria para Gracinha que agora mais do que nunca poderia aprontar como
quisesse, ninguém ia ver, estavam ocupados com o novo bebê.
Cresciam
amigas, Lúcia era a boneca de Gracinha, a liberdade que tanto queria.
Não
gostava de estudar, queria as amigas, brincar e já começava a querer namorar.
Na
verdade, Gracinha era linda, mas uma pestinha. Ninguém conseguia controlar.
Nesse
ponto chegou mais um presente, da mesma forma que Gracinha chegou.
Desta vez
um menino, para alegria de Augusto.
Com as
atitudes de Gracinha e Lúcia mudando seu comportamento, Alba andava aflita e
perturbada, não lhe alegrou muito ter mais um filho nesse momento.
Ainda mais
porque o menino tinha uma deficiência física e isso fez Alba imaginar uma
preocupação a mais.
Augusto
brigou para que o menino ficasse e lhe deu o seu nome:
− Vai se
chamar Carlos Augusto, assim igualzinho a mim.
Mesmo
sendo Carlos – como era chamado – um garoto calmo, estudioso e obediente, Alba
falava sozinha e se perguntava para quê mais uma criança quando não tinha mais idade
para tantos problemas.
A filha Lúcia
desenvolveu um transtorno psicótico e frequentemente era necessário interná-la
numa clínica até que melhorasse.
Maria das
Graças não tinha jeito de ficar em casa. Não quis estudar e não escutava
ninguém.
Resolveu
sair de casa. Iria morar sozinha com umas amigas, disse ela.
− E como
você vai se sustentar, Gracinha, se não estudou e nem quer trabalhar? –
Perguntavam-lhe os pais.
− Me viro,
minha gente, não sou quadrada. Não preciso de ninguém não − respondia ela.
Não
adiantou o apelo dos pais e as promessas da avó. Foi embora, viver como queria,
sem dar muitas notícias.
O desgosto
consumiu dona Cecília, que já de idade e apaixonada pela primeira neta, não
viveu muito.
Carlos
tentava consolar os pais. Saía à procura da irmã para saber notícias dela e
acalmar os pais. Nunca contou o que sabia. Não daria mais notícias ruins sobre
a vida que Maria das Graças havia escolhido.
Tentava
dar seu melhor, se esforçava para ser o melhor estudante enchendo o pai de
orgulho.
Alba não
se animava muito, sempre resmugando e se perguntando pra quê veio mais um
filho, cada um com um defeito, pensava ela.
Augusto
ficou doente e tinha Carlos cuidando dele, pois Alba já aposentada, só se
ocupava de Lúcia.
Cada dia a
doença de Augusto se agravava e não levou muito tempo para ele descansar.
Carlos,
agora formado, recebeu uma proposta de trabalho para outra cidade. Mas preferiu
seguir morando com Alba e Lúcia.
Com a
morte de Augusto, Alba ficou ainda mais preocupada com a sorte de Lúcia. E se ela
morresse, quem cuidaria da filha?
Essas
preocupações a levaram a sofrer um AVC. Resistiu mas ficou com muitas
limitações.
Carlos
contratou uma cuidadora para ficar com a mãe e Lúcia, mas fazia questão de
quando chegasse à noite, ser ele a cuidar de suas “meninas”, como as chamava.
Cuidava dos cabelos de
Alba, que tinha grande vaidade com eles.
− Não
precisa, meu filho. Deixe isso assim mesmo – Dizia ela já sem animação.
− Precisa
sim, mamãe, você sempre cuidou de seus cabelos e eu achava tão bonito! Vou
continuar cuidando.
−
Minha preocupação, meu filho, é a Lúcia. Quando eu me for o que será dela?
− Nada vai
lhe acontecer. E se acontecer, não esqueça que é pra isso que eu estou aqui.
Alba lhe
pediu um abraço e perguntou a Carlos: − Me diga, meu filho, de onde vem tanto
amor? Porque eu nunca lhe dei o suficiente. Me perdoe!
− A
senhora está enganada, mamãe. Todo amor que aprendi
foi com a senhora. Não pense nisso e descanse. Venha aqui, minha menina.
Alba
descansou nos braços de Carlos, o presente que sempre rejeitou.
Carlos
casou com sua alma gêmea. Nita. Uma garota com o coração do tamanho do amor de
Carlos e juntos adotaram Lúcia. A menina deles!
E você,
de onde acha que vem tanto amor de Carlos?
12 comentários:
O amor nasce com a gente e o de Carlos nasceu com ele.
Aprendeu a desenvolver sua generosidade observando o amor que foi lhe negado.
"...é melhor dar do que receber." Quem dar está em posição privilegiada. Ele deu o que tinha: amor!
Obrigada, Cinco, por nos trazer essa bonita história!
História muito bonita. Eu entendo o quanto Alba deveria está decepcionada e por isso rejeitou o menino. Mas nada é por acaso
e acredito que Carlos veio como benção para eles cuidando de Lúcia!
Fiquei emocionada com a história.
Vem do Criador para quem acredita e também de um processo de resignificação.
Vem de um coração grato. Amar é privilégio para poucos. Carlos
é uma pessoa privilegiada, passou por cima da rejeição e manteve
o amor. Muita linda a história e o cuidado desse rapaz com quem
lhe deu abrigo apesar dos problemas.
Comovente!
Parabéns, mais uma linda e comovente história...👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼
A história , como sempre, é muito bonita e inspiradora, cercada de amor por todos os lados.
É comovente e Carlos é surpreendente em seu carinho, como um verdadeiro ser humano.
Parabéns ao pessoal do blog.
Belíssima história !!!
Linda história, com muitos pontos de reflexão!
That's a good question...where does Carlos' love comes from? In a way, it feels like the rhyme of life...that we find what we most want in the places we didn't think to look. How fortunate that Alba found the answer to ease her heart, in exactly the way she tried to avoid...the unwanted child. I wonder how often we miss out on a blessing because we are too busy looking the other way...how much joy goes missing because we let our hearts lead, based on our faulty understanding. I guess in the end I'm just happy that Carlos found someone with a heart similar to his, because he is then blessed twice...blessed to love, and blessed to find love.
Casos e acasos, bela história, adorei!!!
Apreciamos e agradecemos as visitas e opiniões de Lea, Cecilia, Vida, Rochela, Fatima, Mantoliva, Eduardo, Elke, Alex, Diana e Mantoliva.
Carlos e Alba encontraram o amor em seus corações.
Uma belíssima lição de vida.
Lembramos que as historias são reais e em breve teremos mais uma.
We appreciate and appreciate the visits and opinions of Lea, Cecilia, Vida, Rochela, Fatima, Mantoliva, Eduardo, Elke, Alex , Diana e Mantoliva.
Carlos and Alba found love in their hearts.
A wonderful life lesson.
We remind you that the stories are real and soon we will have one more.
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