terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Destino: Loucura

 


“Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.“

Contos e histórias de amor sempre despertaram o interesse de Catarina. Era sonhadora e sempre idealizou um príncipe, um amor chegando de repente e virando sua cabeça.

Em suas fantasias sempre havia um grande amor, desses que não existem, que moram apenas no castelo da ilusão.

Na adolescência os namoros eram sempre decepcionantes. Amor que não durava mais que poucos dias. Cada novo encontro era um desencanto, uma desventura.

Entrou para Universidade e se concentrou nos estudos. Já não tinha tempo para sonhar, construir castelos. A meta agora é contrução de verdade, de tijolos e cimento.

Estudava engenharia civil e parecia feliz com a escolha. Tinha até esquecido essa loucura de amar, se apaixonar, viver um conto de fadas do tempo de adolescente. Agora era vida com os pés no chão, nada de sonhar acordada.

Em um período de férias, viajou para ver sua família que morava em uma outra cidade distante de onde estudava.

O reencontro foi uma festa, matando saudades, cheio de abraços daqueles que tiram o fôlego e nos deixam renovados.

Um mês revendo os amigos, os conhecidos, os lugares onde construiu tantos sonhos nas nuvens do pensamento.

Ria sozinha e pensava: que loucura! Tanta imaginação inútil...

Catarina  encontrou-se com algumas amigas e comentavam sobre os dias passados, das conversas cheias de risos  e a tentativa de adivinhar como seriam os donos de seus corações.

Lembra, Nídia, como você se apaixonava por qualquer um que fosse boninho?

Lembrar eu lembro, só que quem vivia no mundo da lua era você!

As duas riam e se acusavam num diálogo divertido e fantasioso.

Falando sério disse Nídia Em sua nova cidade você não encontrou nenhum maluco não?

Que nada! Essa doideira que a gente pensava não existe não. Era tudo coisa de nossas cabeças vazias.

Os dias voaram nesses tempo de completo desligamento da vida real.

Hora da despedida.

Catarina voltava à terra já cheia de saudades. O descanso foi bom e a deixou com mais saudades do que estava antes. Mas, vida que segue.

O vôo atrasou. Ficou inquieta. Queria chegar logo. Procurou um lugar para tomar um café, comprar um livro, uma revista, qualquer coisa que fizesse o tempo correr.

Comprou algumas revistas e sentou-se o mais confortável possível.

Colocou os pés na mesinha de descanso à sua frente. Tudo certo e normal não fosse o rapaz na cadeira da frente fazer o mesmo.

Um susto para os dois. Risadas dobradas e, claro, desculpas pra lá e pra cá.

O moço mais desinibido se apresentou:

Sou Carlos Eduardo. Cadu para os amigos. Muito prazer!

− Prazer! Eu sou Catarina, para os amigos e para os inimigos também. Meu nome é difícil, se cortar é um desastre. Então serei eternamente Catarina.

Bonito nome. Se quisesse poderia te ajudar a encontrar um nome menor, mas, sinceramente, me recusaria. Catarina combina com você.

Ih... Está me cantando? (risos)

De jeito nenhum. Foi um elogio sem pretensão. Acredite. Me excedi.

Esquece, não sou de levar nada muito a sério não.

O tempo correu como relâmpago e chegou a hora de embarcar.

Durante a viagem, Catarina ficou pensando naquela conversa descontraída.

Achou interessante o jeito daquele rapaz. Tentava se concentrar nas revistas mas não conseguia. Tentava então adivinhar quem era, como era, e no muito que não perguntou.

Cadu ainda ficou no aeroporto por mais um tempo. Enquanto esperava pensava naquele encontro tão animado e que passou tão depressa.

De repente gritou consigo: IDIOTA! Como você não perguntou coisas importantes, telefone, cidade... essas coisas, seu elefante?!

Os dias passando e um e outro se lamentando pela oportunidade perdida de não terem trocado contato.

Catarina tentava se concentrar nos estudos, sem sucesso. Cadu tentava encontrar uma forma de descobrir algo sobre Catarina, com menos sucesso ainda.

Sim, mas por onde começar? Em qual cidade morava aquela pequena que lhe roubava grande parte de seu pensamento? Epa! Teve uma idéia Sim, tinha uma pista: a cidade do aeroporto. Talvez morasse por perto.

Começaria por lá. Restava saber quantas Catarinas moravam ali, se a “sua” Catarina vivia naquela cidade.

Era assim que se referia a ela: “minha” Catarina. E era ela que queria encontrar.

Viajou até a cidade do encontro. Começaria pelo catálogo telefônico. Encontrou muitas e muitas “Catarinas.”

Ligaria para todos aqueles numeros um a um? Não! Certemente que não. Sequer sabia o ultimo nome dela. Seria um vexame.

Deitou de costas totalmente desanimado. Apesar do pouco tempo passado, talvez ela nem lembrasse mais dele. Desanimou.

Sentiu um aperto no coração, aperto de desilusão. Levantou-se e decidiu que faria alguma coisa custasse o que custasse. Talvez um outdoor?

“Alô, Catarina do aeroporto, ligue para Cadu!”

Não, muito piegas. Ela lhe pareceu simples, moderna...

Moderna, isso!! Quem sabe jornais ou redes sociais?

Hum... muita exposição. Não. Teria que ser algo mais discreto, inteligente.

E se procurasse na empresa de aviação que era a mesma que a dele? Talvez funcionasse. Iria tentar. Estava ali para fazer qualquer coisa. A ideia de ter perdido Catarina de vista lhe deprimia.

Foi até o aeroporto e procurou o Estande da Companhia.

Boa tarde! Disse ele cumprimentando a recepcionista.

Boa tarde! Respondeu a simpática funcionária. Como posso lhe ajudar, senhor?

Simples. Preciso de um favor muito simples. Há alguns meses encontrei uma amiga neste aeroporto.

Na verdade, continuou  eu não a conhecia antes. Falamos, trocamos conversa mas não trocamos nenhum contato. Eu preciso encontrá-la. Tenho o dia e a hora do vôo e foi com esta companhia que ela viajou. Tudo para lhe facilitar. Posso contar com sua ajuda?

-Bem, senhor, eu adoraria lhe ajudar. Mas entenda, temos normas na empresa e mesmo que tenha esses dados, por motivo de segurança não  poderia  lhe informar. Me perdoe.

- Não posso perdoar. A senhorita tem namorado?

Sou casada, senhor.

- Perfeito! Se casou foi porque ama seu marido. E se ama deve entender meu sofrimento.

- Sofrimento? O senhor acabou de me dizer que a viu uma vez, mal sabe o nome, e já está sofrendo?

- Bem, eu não sei o que sinto. Só sei que preciso encontrá-la novamente e não tenho idéia do porquê dessa necessidade. Me ajude!

- Não posso, Senhor. Sinto muito. Mas posso lhe dar uma idéia.

- Tudo que a senhora disser. Farei tudo sem ao menos pensar.

Espere ao lado e logo que sair do meu horário lhe darei uma sugestão.

Cadu esperou um bom tempo sem perder a paciência. Tinha uma esperança e sabia que as mulheres tem boas intuições e as melhores idéias do planeta. Então esperaria o tempo que fosse necessário.

Finalmente, a funcionária ficou livre e conversaram. Ele contou as idéias que havia tido, inclusive as que achou ridículas.

Ah, senhor, não tem como enfrentar o amor sem encarar o ridículo às vezes. Se quer, precisa aceitar as regras do jogo.

- Aceito, eu aceito! – Respirou fundo, fechou os olhos esperando o que teria que fazer.

- Diante de seu desespero que me parece sincero, a única coisa que posso fazer é lhe informar o destino do vôo na data e horario que o senhor me informou. Ajuda? E depois? Perguntou Cadu, aflito.

Depois o senhor faz alguns outdoors com sua foto, espalha em alguns pontos estratégicos da cidade, mais ou menos assim:

 “Moça do vôo tal da cidade X para cidade Y no dia tal. Sou o rapaz mais desligado do mundo que falou com você. Mande um contato para Caixa postal (...) com algum detalhe daquele dia. Preciso lhe falar com urgência.

PS: juro que sou normal.”

O outdoor fez sucesso e as pessoas comentavam. Uma semana depois Catarina tomou conhecimento e foi checar a coincidência sem acreditar que poderia ser ela a moça do outdoor.

Ficou incrédula. Que cara louco! Pensou.

Era ele! A foto dele. Riu descontrolada e ligou para sua amiga Nídia e contou tudo.

- Garotaaa! O cara é maluco total! Não sei o que fazer.

- Vai na caixa postal e dá plantão e surpreende ele sugeriu Nídia.

- Não tem como, sua doida, a caixa postal é do outro lado do País. Eu estudo, esqueceu?

- Escreve então. E digo o quê?! Perguntou Catarina meio perdida.

Pensa aí, amiga, uma hora a idéia vem. Vou pensar algo e te falo.

Não foi preciso. Catarina lembrou de um detalhe. No outdoor não tinha o nome dele. Teve certeza que esse seria um grande detalhe. Assim, escreveu:

“Oi, Cadu. Sou a moça do võo mais maluco que fiz. Anote meu contato (...)

Assinado: Catarina, para os amigos e inimigos.”

A essas alturas, Cadu já estava arrependido de ter seguindo as “instruções” da desconhecida amiga. Os engraçadinhos encheram a caixa postal de brincadeiras.

No meio de tantas piadas encontrou as duas linhas que lhe fizeram esquecer todo aborrecimento: a nota de Catarina, clara, com tudo que ele queria saber.

Estaria certo ou seria uma brincadeira dela? Tentaria.

Tomou banho, se fez bonito como se fosse para um encontro real. Ensaiou a voz, as frases, precisava parecer inteligente. Respirou, e ligou com o coração aos pulos.

Ninguém respondeu. Esperou um pouco e tentou novamente. Ocupado.

Droga! Será o destino me avisando alguma coisa? Pensou.

Ligou mais uma vez decidido que seria a ultima tentativa.

 – Alô! Era ela.

Com a voz tremendo Cadu perguntou: quem está falando?

A pessoa para quem você ligou (risos).

- Ah, desculpe, Catarina. Estou meio sem graça de lhe incomodar.

E por que? – Perguntou Catariana.

Sinceramente não sei respondeu Cadu mas te garanto que não sou esse paspalhão que está perdido, sem graça e atrapalhado.

Catarina com seu bom humor o deixou à vontade.

Conversaram muito e no final já estavam falando do quanto pensaram um no outro.

As conversas se repetiram outras tantas vezes e descobriram muito mais do que pensavam. Se descobriram ligados, um querendo ao outro.

Se encontraram  e se finalizaram numa descoberta rara: suas almas estavam ligadas por algum motivo que desconheciam.

A cada dia, continuam se descobrindo ainda mais, e afirmam com certeza que querem viver assim, juntos.

A filha dos dois é o selo de garantia que nada é por acaso, e que o amor, sim, o amor pode estar em qualquer canto deste planeta.


“Tinha sido amor à primeira vista, à última vista, às vistas de todo o sempre.” – Vladimir Nabokov


 Homenagem de Catarina a Cadu, no Aniverário de 15 anos de casamento.


Paixao.com

    “ Conheci um amor virtual, amor tão lindo quanto o real, sempre mando recados e depoimentos, mesmo distante tocou meus sentimentos.” ...