quinta-feira, 28 de outubro de 2021

45 minutos do segundo tempo.

 



Júlio estava vivendo seus 68 anos. Filhos casados, aposentado,  mas vivia sozinho  depois que ficou viúvo.

Não se interessava por ninguém e se achava velho demais para se envolver em uma aventura de amor. Na verdade, não acreditava mais que pudesse despertar paixões e ser despertado por elas. Tinha desistido, se acostumara a viver sozinho, achava cômodo.

Se entranhava cada vez mais na preguiça de não enxergar o brilho que a vida tem quando se está envolvido com outra vida.

Júlio, visitava os filhos, os netos, trocava carinhos familiares, e continuava vivendo uma vidinha mais ou menos, sem perceber isso.

Começou a sentir-se velho. Sem animação para comprar uma roupa nova, se pôr bonito para alguém, nem mesmo para ele. 

Para quê? Estou bem assim. Pensava.

Não, não estava. Quando ficava só com ele mesmo, se perguntava o que lhe restava. Se envolvia em suas leituras e se alimentava de literatura e filmes na TV. Não sabia bem para que tanto saber, tanto conhecimento, se não tinha com quem dividir.

Os amigos, sabedores de sua obsessão pela leitura o presenteavam com livros. Dentre esses muitos recebidos, encontrou um livro de romance.

Ficou triste. Olhava para aquela história como algo inatingível em seu caso. Nunca mais viveria um amor. Nunca mais sentiria o prazer do gosto da paixão. O gosto de um beijo, o carinho quente de uma mão atrevida. 

É certo que tinha suas lembranças. Mas essas ficavam cada vez mais distantes, mais apagadas.

Começou a sentir-se doente. Não tinha mais a agilidade de antes. Já não queria fazer seus exercícios, ou aceitar o convite de seus amigos para um jantar. Todos eles, na maioria das vezes estavam acompanhados, e, quando sozinhos, era a mesma conversa que já cansara de ouvir.

Falavam de solidão, mentiam que estavam bem e felizes. Ou falavam das mesmas lembranças.

Estava cansado. Iria ficar quieto com seus livros e tentar viver o que já não o consolava mais.

Dormiu sem sonhar. Acordou cedo e precisava sair, tinha um compromisso. O carro não funcionou. Usou seus conhecimentos de mecânico e nada adiantava. Se aborreceu e resolveu pegar um trem. Depois veria o problema do carro.

Na plataforma viu uma moça que lhe chamou atenção. Alguma coisa que ele não sabia explicar. Será que a conhecia de algum lugar? Não. Absolutamente não. Se a conhecesse não esqueceria.

Tentava evitar olhá-la, mas não se continha. Queria descobrir o que era.

O trem chegou. Os dois entraram no mesmo vagão. Júlio se pegava olhando para jovem. Ela sorriu como se o cumprimentasse. Ele ficou tímido.

Descobriu que eram os olhos dela que lhe chamavam atenção. Se sentiu perturbado.  Desceu em sua estação com vontade de continuar até ver aonde ela iria descer. Se sentiu idiota. Agradeceu a si mesmo por não ter feito a bobagem.

A noite chegou e Júlio não conseguiu voltar para sua rotina. Aqueles olhos... e se não bastasse, o sorriso. Que diabos estava acontecendo? Quem seria aquela criatura?

A noite foi longa para aquele que sem querer havia saído de sua rotina de solidão. Sentiu saudades de viver sem ser incomodado, mas, ao mesmo tempo, uma força nova o estimulava.

Pensou em ir consertar o carro. Desistiu. Quando percebeu estava na estação, no mesmo horário do dia anterior, olhando aflito para cada pessoa que surgia na plataforma.

Se perguntava o que estava fazendo ali. Se sentiu ridículo. Resolveu voltar. Tarde demais. A dona do par de belos olhos e sorriso bonito estava chegando. Que loucura! O que fazer agora? Ir embora como pensou? Fingiu que lia um anúncio e esperou o trem. Entrou no mesmo vagão.

Viu a moça descer e lhe faltaram pernas para descer também. 

No dia seguinte fez a mesma trajetória: estação, moça, trem e vagão.

Com a diferença que desceu na estação em que a jovem desceu. 

Pensava consigo: sou um  louco. Ela vai me notar e “pensar” que a estou perseguindo. Vai chamar a polícia, serei preso, algemado, e vou morrer na cadeia, velho e abandonado.

Precisava colocar um limite em sua loucura. Entrou no primeiro bar que encontrou e pediu um café. Precisava de energia. Pediu água. Precisa se acalmar também. Esqueceu o café. Colocou açúcar na água, remédio caseiro de sua mãe. Ficaria bem, curado dessa loucura.

Quase ficou bom mesmo não fosse a moça entrar no mesmo bar e pedir um café também.

Não tinha mais mesa. O bar, pelo horário, estava cheio. A jovem olhou em sua direção. Júlio tentou se esconder em si mesmo, mas não havia lugar nem fora nem dentro de si. Aquela desconhecida havia ocupado todos os cantos.

Ela, gentilmente, pediu permissão para sentar-se à sua mesa. Ele consentiu, obviamente. Ficou tão nervoso que se manteve de pé, parado. Ela, muito falante, lhe perguntou se atrapalhava, e se ele não iria sentar-se.

- Sim, sim... vou. Quer dizer posso? Ela riu do desconserto dele.

- Claro! Disse ela. - A mesa é sua, eu é que me intrometi. E já emendou uma conversa.

- Trabalha por aqui? Júlio mentiu. – Sim. Trabalho. 

Ela: - sei... onde?

Ele: - não sei...

Ela riu e disse: - eu sei que não sabe. Talvez esteja procurando algo. O senhor não lembra de mim? Júlio meio sem graça, disse que sinceramente não. Ela então disse que o conhecia da casa da Amanda, amiga dela, filha do Seu Vitor da lojinha da rua de casa.

Júlio se sentiu envergonhado. Pediu desculpa e se justificou mil vezes. A jovem disse que desculpava na condição de no sábado ele ir no aniversário do Seu Vitor. Ela e Amanda estavam preparando uma surpresa para  Seu Vitor. Disse que Júlio poderia levar quem quisesse. 

Promessa feita, perdão concedido. O drama era esperar o sábado.

Senhor - rezou ele -; -Hoje ainda é quinta-feira!!! Me tire dessa ansiedade, afaste esses pensamentos. Por que eu prometi?

- Eu sou um covarde. Um louco. Não sei o que estou fazendo. Ela deve estar contando para sua amiga e rindo de mim.

Lembrou da promessa, da festa, da roupa apropriada que não tinha. Estava gordo, precisava perder peso até sábado. O que fazer? Consultava desesperado todos os sites de como perder peso em uma semana. Uma semana! Muito tempo. Precisava de uma solução mais urgente.

Perguntaria à sua nora. Ela, muito vaidosa, saberia lhe dar uma receita.

- Perder peso? O senhor que perder peso seu Júlio? Mas o senhor está tão bem.

-Jura? Você acha mesmo? É que ando me sentindo cansado. As roupas não cabem bem...

- Ah, seu Júlio, tá na hora de o senhor comprar umas roupas novas. Tirar esse pijama feio, fazer caminhada, comer salada...

Isso! Era isso! Iria caminhar o dia inteiro e comer apenas salada até sábado. Não! Até o fim da vida. Chega! Preciso me cuidar – pensou.

Partiu para sua caminhada sem tirar de seu pensamento os lindos olhos da jovem, jovem Marina. Sim, agora ela já não era apenas um belo par de olhos com um sorriso bonito. Tinha nome, endereço e estava ali, pertinho dele.

Marina...  pensava alto -  Que nome lindo!

Pediu ajuda à sua nora para comprar umas roupas novas. Ela, que adorava comprar, aceitou na hora o desafio. – Vou lhe tornar o homem mais bonito da festa, seu Júlio, o senhor vai ver.

Sábado. Chegou a hora!

 Vestiu todas as roupas novas uma a uma. Nada parecia digno de Marina. Como estaria ela? Certamente linda. Não precisaria de muitos enfeites. A natureza lhe foi generosa. 

Júlio estava pronto. Não tinha certeza se conseguiria chegar até a casa do amigo Vitor, seu coração pulava. Talvez não resistisse à emoção. Ou talvez não resistisse ao desprezo de Marina. Ou talvez... espere! E se ela estiver com o namorado? E por que eu  estou aqui imaginando coisas? Será que passa pela minha cabeça que uma mulher jovem, bonita, vai estar sozinha?

 E, se estiver, vai se interessar por mim? – Júlio, seu louco! Volta para seu pijama. Se tranque em casa e não saia de lá nunca mais!

Ouviria a voz da razão. Deu meia volta. Não deu tempo. Marina o viu e gritou: Júlio! 

Fechou os olhos, e fez sua última oração: - Senhor, seja feita a sua vontade...

Marina o pegou pela mão e entraram na casa do amigo Vitor que seria surpreendido logo em seguida. Marina lhe ofereceu uma bebida. Júlio tomou de uma só vez.

Começou a festa. Seu Vitor muito feliz. Marina sozinha se divertia e dançava, fazendo Júlio se prender ainda mais com tanta alegria. Por momentos esqueceu sua idade. Dançou, brincou, riu, fez o que nunca fizera antes sem se importar de estar sendo ridículo ou não. Pouco importava. Queria viver aquilo, nem que fosse pela última vez. Não Foi.

Depois da festa, já pela madrugada, sobraram ele e Marina. Cada um falando de si, de suas dores, suas alegrias, suas vontades...

O dia estava nascendo. Os dois sentaram no chão, na rua mesmo, para assistir o lindo espetáculo da natureza. 

Ela se acomodou nos braços de Júlio que sentia a alegria de viver aquele momento que se repete sempre que os dois saem para festejar na noite.

Idade? Quem falou em idade? Nós estamos falando de felicidade! 

“Existe somente uma idade para a gente ser feliz […] Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração do instante que passa.” 

Mário Quintana

E você, concorda com o poeta Mario Quintana?

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Rua Santo Ventura, nº...

 


Férias escolares de fim de ano. Donato e Eliza contam a Jonas, de 15 anos, único filho do casal, que iriam passar as férias no exterior. Jonas ficou animado e foi contar da viagem para sua namorada, Nina.

Nina, era uma boa garota, também adolescente como Jonas, mas não podia sonhar com uma viagem assim.

No início eles namoravam escondido. A família de Jonas tinha medo de deixá-lo andar no bairro perigoso em que Nina morava.

Com o tempo, para acalmar a rebeldia de Jonas, permitiram. 

Nos sonhos de namoro, Jonas prometia a Nina que quando terminassem os estudos, e tivessem um bom trabalho, iriam viajar a muitos lugares. 

Viajariam até a lua e astros, montados numa estrela linda!

Eles riam da loucura dos sonhos, mas era tão bom sonhar e estavam tão apaixonados, que juravam que esse amor nunca iria acabar. Duraria para sempre, eternamente, até depois da vida. Juras seladas com beijos inocentes de puro amor.

Logo depois que chegaram ao novo País, Jonas foi informado pelos pais de que a mudança era definitiva. Jonas se revoltou, se sentiu enganado.

Escreveu para Nina contando tudo, pediu para que ela o esperasse, que ficariam assim, se correspondendo até sua volta, e então poderiam realizar o sonho de viajarem pelos astros como sonhado.

O pai o levou até os correios para enviar a carta. Mas o deixou no carro  e foi ele mesmo -  como dono do dinheiro - enviar a carta, o que não aconteceu.

Jonas se sentiu aliviado. Pensou que logo receberia resposta de Nina dizendo que sim, esperaria por ele até o mundo acabar, até depois de depois, se assim precisasse.

Donato, sem nenhum remorso, entregou a carta roubada para Eliza e disse para ela dar fim  naquilo que ele não pode fazer.

Os dias se passaram e nenhuma resposta de Nina. Os pais começaram a dizer que Nina era volúvel, que estava com ele enquanto ele a levava para se divertir.

Jonas ficou desanimado e resolveu esquecer, já que Nina aparentemente o havia esquecido. Com o tempo, casou, foi pai de duas meninas e depois de quarenta anos ficou viúvo.

Tinha poucos amigos, e devido ao que passou com os próprios pais, não confiava em quase ninguém. Suas filhas eram sua companhia. 

Foi ficando melancólico. O pai morreu e ele passou a cuidar da mãe, já doente.

A saúde de Eliza só piorava e ela precisou ficar no hospital. Jonas ia vê-la todos os dias.

Eliza, já quase sem força para falar, perguntou a Jonas porque ele não se casava de novo, e por que era sempre tão melancólico.

Jonas ouvia sua mãe com os olhos perdidos no nada. Ela repetiu a pergunta, despertando o filho do vazio em que se encontrava.

Jonas foi sincero e disse: -sabe, mãe, eu não sou feliz. Desde que viemos para esse País eu não tenho alegria. Trago comigo muitos sentimentos, dentre eles o sentimento de rejeição.

-Lembra daquela minha namorada? Continuou Jonas. Me causou um dano muito grande. Eu tinha certeza que era amor de verdade, que duraria pra sempre.

Não me queixo do meu casamento, mas foi um casamento apático. Nós nos toleramos nesses anos baseados apenas no respeito e na tradição que a sociedade nos impõe, e na vontade de criarmos nossas filhas juntos. Mas nada muito além disso.

-Mãe... prosseguiu Jonas, por que será que a Nina me esqueceu tão depressa?

Jonas confidenciou suas frustrações como nunca fizera. Nem percebeu que sua mãe chorava. Só se deu conta quando a enfermeira veio trazer a medicação para Eliza e perguntou o motivo do choro.

Jonas se assustou e tentou se desculpar com a mãe. Ela lhe disse: - não, meu filho, quem precisa de perdão sou eu. Eu e seu pai, que já não está entre nós.

E lhe contou que a carta nunca fora enviada. Contou também que ousou ler a carta para ver as bobagens que uma criança escrevia. Foi tão bonito o que viu,  e não teve coragem de rasgá-la. Faria um dia, mas o tempo a fez esquecer da carta.

Jonas, disfarçando o quanto estava indignado perguntou pela carta, e onde a mãe a guardou. Não obteve  resposta. Eliza piorou muito pela emoção e remorso talvez, e não conseguia mais se comunicar. Morreu uma semana depois.

O desespero de Jonas só aumentou, e suas filhas e únicas amigas, pediram pra ele contar. Ele contou tudo. Linha por linha. Uma das filhas disse que  mulher adora caixas, e que guarda tudo nelas que é pra não perder. 

Partiram para casa de Eliza em busca do que parecia impossível. Olharam tudo e acharam uma caixa em imitação de caixa de fósforo. A carta estava lá, sã e salva.

Uma pergunta no ar: de que valia ter encontrado a carta agora? Uma das filhas sugeriu para alívio do pai, enviar a carta, provando para Nina sua dignidade, talvez isso o fizesse se sentir melhor.

Mas como mandar? Ele já nem lembrava o sobrenome da Nina que provavelmente já estaria casada, com família, nem lembraria que namorou um cafajeste que a enganou, fazendo mil promessas e não cumpriu nenhuma.

As filhas insistiram: -tenta, pai. Vai que tem um parente, uma amiga de infância que ainda mora por lá...

Sim, mandaria. Mas... mandaria para onde? Qual endereço? Tudo que lembrava era  o nome do bairro e da rua. Nem o número sabia. 

Foi caminhar, precisava de ar, de ideias, de um milagre, uma mágica, uma reza, qualquer coisa que o ajudasse.

A ideia veio: Jogar. Jogar com a sorte. Fez uma carta explicando  o que aconteceu e juntou à carta já amarelada. Mandaria num envelope grande e escreveria o nome da rua,  faria um desenho, pediria por caridade... enfim.

Assim fez. Começou assim no envelope: “Sr. Carteiro, aqui é um homem desesperado (...)”

Finalizou dizendo: “o nome dela é Nina. O endereço que lembro é Rua Santo Ventura Nº... não sei.”

Aquele envelope exagerado com aquele relato comoveu o carteiro. Este prometeu a si mesmo: se essa pessoa estiver viva e neste País, vou encontrá-la. Dor de amor acaba com a gente. E seguiu sua missão.

Parava em cada casa da Rua Santo Ventura, e fazia  indagações.

Até que uma alma do céu deu notícia.

 – D. Nina? Mora aqui mais não. Mudou faz tempo. Mora em outro bairro na casa do filho. O carteiro perguntou, quase confirmando: então Dona Nina é casada? Ao que a pessoa respondeu: não. D. Nina nunca se casou. É mãe solteira. Teve um menino que hoje é formado e vive muito bem de vida.

O Carteiro argumentou:

 - A senhora parece uma pessoa tão boa. Poderia me dar o número do telefone dela?

- Não, senhor. O senhor é carteiro mas não o conheço. 

- Por caridade! Implorou o carteiro.

- Por nada! Posso ligar pra ela  e falar. Serve?

- Serve muito. Faça isso por favor e Deus há de recompensar, amém.

Ela fez.

Nina recebeu a ligação e ficou sem acreditar. Claro que ela lembrava. Mas por que depois de tanto  tempo? Resolveu receber o mensageiro na entrada de seu prédio acompanhada do filho. Ela viu o envelope e pensou ser uma brincadeira.

Mesmo assim, leu. Ficou parada incrédula. Seu coração disparou e aquele namoro lhe veio à mente tão vivo quanto o que nunca morreu.

Falou com o filho. Tomou uma decisão. Iria responder a carta. Mas o que diria?

Tal qual Jonas, Nina precisa de palavras, de inspiração. Encontrou. 

Havia passado três semanas que Jonas enviara a “carta tentativa”. Começou a desanimar. Todos os dias esperava o carteiro na porta, iria vigiá-lo, para ter certeza de que entregaria todas as cartas. Todos os dias a mesma desilusão.

Era sábado, o carteiro passava mais cedo e Jonas lá, de plantão. Talvez fosse hoje. Quem sabe? Esperaria só hoje. Se não viesse não viria mais. O carteiro passou e nada. Não vem mais, pensou. Saiu. Precisava andar, jogar os pensamentos em Nina fora. Se conformar.

Um carro parou em frente à sua casa. Ele se virou para olhar. Uma mulher desceu do carro e disse: Jonas, eu vim trazer a resposta de sua carta à Nina. Jonas emudeceu. Era Nina. Linda como sempre foi. O rosto maduro dava ainda mais charme à beleza que ele tanto amou e sonhou. 

Ela se aproximou e perguntou: para onde você está indo? Ele ainda sem fala, só sinalizou que não sabia.

Nina sugeriu: -por que não vamos à lua? Você me prometeu!

Um abraço sem fim garantiu a viagem e o casamento três meses depois. No dia 11/11/2011.

E você, acredita em um amor sem fim?

 

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

O Tempo não para!

 




Arthur, filho mais velho de uma família judia, tinha o temperamento calmo e divertido, adorava fazer comemorações.

Comemorava tudo. Sempre alegre, conquistava muitos amigos e era uma referência para os três irmãos.

Neto favorito, seguiu a carreira de seus avós que sonhavam com isso, já que os filhos preferiram outro caminho.

Uma semana depois de sua especialização, ganhou de presente de seus avós paternos, um consultório ondontológico de presente, como recompensa e admiração.

Arthur ficou radiante, isso fugia um pouco à regra da família, que era batalhar para conquistar. Quis  dividir a alegria com alguns amigos próximos.

Depois de exibir o “prêmio“, saíram para comemorar. Ao final, os amigos foram saindo e só Gustavo ficou, amigo até debaixo d’agua.

Gustavos recebeu uma ligação e ficou preocupado. Arthur fez sinal de: - “o que aconteceu?”

Gustavo relatou que era uma amiga dele, que Arthur não conhecia, Isadora, que havia se separado, e o ex não aceitava a separação e a perseguia.

Cada encontro era um abuso, e desta vez Isadora saiu correndo e estava escondida e pedia socorro.

Gustavo estava sem carro e Arthur ofereceu ajuda. Isadora estava bem machucada e os dois a levaram ao Hospital e depois para denunciar a agressão.

Arthur deixou o amigo em casa e levou Isadora para casa dos pais dela. Trocaram telefones. Ele iria checar como estava passando a nova amiga. Tudo certo!

Saiu dali com cara de bobo e foi falar com seu pai, que estava saindo para o trabalho.

O pai se assustou ao vê-lo tão cedo e perguntou o que aconteceu.

Arthur contou o ocorrido e também disse que era mais que isso, que havia encontrado a mulher de sua vida. Seu pai não levou a sério.

Mais tarde, Arthur ligou para saber de Isadora. Ficaram mais de três horas ao telefone.

Arthur disse que queria vê-la, se poderia ir até lá.

Sairam para jantar, e na conversa Arthur disse que iria protegê-la, cuidar dela, que ela era a mulher da vida dele e que iria conquistá-la.

Isadora riu e perguntou se ele era assim mesmo, apressado, e ele disse que sim. Que a urgência morava dentro dele.

Ela pareceu não ligar muito, mas em menos de um mês, estava sendo apresentada à família de Arthur. 

Todos ficaram encantados com a simpatia de Isadora e celebraram quando Arthur disse que iriam morar juntos e casar logo que o divórcio dela saísse.

Arthur entrou na briga mais pesada de sua vida. O ex marido ameaçava e tentou fazer da vida deles um inferno. Não conseguiu apesar de muito tentar. Eles estavam ancorados por um sentimento forte, verdadeiro.

Arthur queria um filho, Isadora preferia esperar até o casamento, ele isistiu, disse que tinha pressa, e sempre usava a frase: Let’s be happy!

Nasceu Haya. Festa e alegria na familia.

Primeira filha, primeira neta, primeira sobrinha... uma princesa mandando em todo mundo.

Mas Arthur queria um castelo cheio, sonhava com isso. Insistiu. Ganhou Ascher.

Mazel Tov!!! O príncipe chegou!

Finalmente, depois de oito anos o divórcio saiu. Vitória para o amor. 

Marcaram o casamento para maio de 2020.

Em março a pandemia chegou para  adiar o evento.

Esperando que tudo passasse logo, marcaram então para setembro, mes escolhido por Isadora.

Em junho a família se reuniou para celebrar qualquer coisa (coisas do Arthur).

Era domingo e Arthur cuidava do churrasco com seu avental de churrasqueiro com sua frase favorita estampada, presente de Isadora.

O verão estava começando. O dia estava lindo. Arthut entrou em casa para pegar gelo.

O coração tinha pressa. Não esperou.

 Arthur virou uma estrela. Assim, de repente, explicando sua pressa em ser feliz.

Na casa, é mantido o avental com sua mensagem: LET’S BE HAPPY!

 
E então, let’s be happy? O tempo não para!

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

A Corda da paixão.

 


Festa popular. Mara e Anita passeavam observando a festa. Adolescentes de 13 anos, se divertiam com o que viam. Riam e se empurravam. Mara saiu correndo e Anita chamou pelo seu nome: Me espera, Mara! Uns garotos um pouco mais velhos, também aproveitam a festa. Um deles, Nilo, perguntou:

Mara?! Quem é Mara?  Minha irmã favorita chama-se Mara.

Começou uma conversa entre os três, com risos e brincadeiras. Nilo deixou os amigos para trás, e muito gentil se ofereceu para acompanhá-las até em casa.

Os três conversavam animados, mas a conexão rolou mesmo foi entre Anita e Nilo. Deixaram Mara em casa e ficaram no portão da casa de Anita até a hora de entrar.

Nilo achou pouco o tempo e perguntou se podia voltar no dia seguinte para continuarem a conversa. Anita não sabia se poderia, tinha só 13 anos e os pais não deixariam, talvez. Nilo argumentou que estavam ali, na frente da casa, só para conversarem.

Os pais consentiram e Nilo voltou no dia seguinte. Um ano depois estavam noivos. Duas crianças, mas a paixão quando pega, não pergunta idade nem endereço. Quando ela chega, se instala e pronto.

Brigaram muitas vezes até o casamento dois anos depois.

Anita com dezesseis anos e Nilo com vinte e quatro.

Os pais não queriam, mas Anita garantiu: “-  Se não deixarem, eu fujo Vou com ele!”

E fugiria mesmo, tinha personalidade forte, e Nilo, apaixonado, concordava com tudo que ela queria.

Os pais perguntavam, vão casar e morar onde?

Nilo já tinha tudo pronto. Iriam morar na casa da mãe dele.

Tudo certo. A família dele morava em outra cidade e no casamento, só o irmão de Nilo  compareceu.

No mesmo dia foram para a casa da família de Nilo.

Viajaram pela manhã, passaram a noite na rodoviária, uma viagem de ônibus, cansativa e sem conforto para uma noite de núpcias. Os noivos e o irmão do noivo.

Chegaram no começo da tarde em sua nova casa. Duas surpresas para a mãe do noivo: o filho casado e uma nora que moraria com ela. A recepção não poderia ser melhor.

Vocês são loucos? Nossa casa está em construção e você trás a menina ( a “menina” havia visitado a família do agora marido, outras vezes quando ainda noivos e tudo parecia bem).

Cansada e um pouco desapontada com a recepção, Anita chorou muito, aumentando o mal-estar instalado.

Tentaram levar a vida sem que nora e sogra disfarçassem o desconforto.

Anita não era bem-vinda e sentia isso, tendo proposto ao marido procurarem uma casa; um lugar só deles.

Ele concordava, mas seu irmão dizia para esperar um pouco até conseguir um emprego melhor, que ele estava tentando conseguir para Nilo. O emprego não chegava.

Determinada, Anita saiu procurando um lugar e encontrou.

Um lugar distante, pobre, pequeno, mas seria o castelo deles. Estava feliz.

Ficariam ainda mais, com a novidade da chegada do bebê, o primeiro dos quatros filhos que planejaram ainda no namoro. Anita estava grávida! Vibrou, comemorou, mas... sozinha.

As famílias dos dois lados condenaram a precocidade do evento.

A tristeza durou pouco pois de natureza alegre, Anita logo lembrou que iria ter um bebê, prêmio da paixão cada vez maior que ela e Nilo sentiam um pelo outro.

Era uma vida de sonhos, um amor e uma cabana. Portanto, superariam tudo e todos. Um filho daria ainda mais força para os dois.

Anita se enchia de alegria e coragem, mas Nilo, embora apaixonado, acreditava nas promessas do irmão de conseguir um trabalho melhor, que ganhasse mais dinheiro.

Saiam o dia inteiro para procurar o tal emprego e assim perdeu o que estava empregado.

Anita resolveu que iria trabalhar. Mas com a barriga de 9 meses não conseguiu. Não teve tempo de encontrar uma alternativa.

Seu pai lhe mandava algum dinheiro escondido da mãe, o que ajudava um pouco.

Às 23hs de um dia quente, Anita foi para o hospital.

O bebê estava chegando.

Nilo não quis esperar porque o bebê só nasceria depois das duas da manhã, segundo o médico. Ele voltaria pela manhã, disse.

Naquela madrugada, Anita e o bebê se recepcionaram sozinhos, com uma festa somente dos dois.

Pela manhã, Nilo chegou e olhou o bebê meio que assustado, parecia que sentia medo de uma criaturinha tão pequena.

Fez um comentário que Anita não gostou e pediu para ele ir para casa.

Às saídas com o irmão à procura de um trabalho que nunca encontrava irritava Anita. Até descobrir que os dois gastavam parte desse tempo no cinema.

Anita deu um ultimato a Nilo: “- Ou muda você ou eu me mudo”.

Ele chorou, prometeu, ficou mal, mas não mudou.

Anita foi embora ainda cheia de paixão mas sem perspectivas e com um amor maior para cuidar.

Anita por vezes não tinha comida, mas o bebê tinha leite para ser uma criança saudável e inteligente.

Encontrou um trabalho e seguiu sua vida sem Nilo.

Anita prometeu nunca deixar faltar nada ao seu bebê.

Nunca faltou. Talvez mais tempo, mas nunca o que Anita havia sonhado para sua pequena.

Anita talvez não seja a melhor mãe do mundo, mas foi a mais dedicada e nunca mais dividiu esse amor com ninguém.

Nilo? Bem, Nilo ainda tentou uma reconciliação muitas vezes.

Não teve chance. Encontrou alguém e deve ter sido feliz.

Anita?  Ela garante que é feliz. Traz o gosto na boca do dever cumprido. De olhar para trás e dizer:

“-Eu fui além do tentar. Eu fiz!”

E você, seguiria em frente como Anita fez?



Paixao.com

    “ Conheci um amor virtual, amor tão lindo quanto o real, sempre mando recados e depoimentos, mesmo distante tocou meus sentimentos.” ...