Quando Laura nasceu foi uma
alegria. Os pais demoraram muito a decidirem ter um filho. Eram ricos e queriam
aproveitar a vida antes do compromisso eterno de serem pais.
Laura nasceu linda e, ainda, com
o privilégio de nascer com as contas pagas.
Dinheiro não faltaria, amor
também não.
Laura era tão especial que
veio e não gostou desse mundo, se isolou em um mundo seu, criado por ela mesma.
Era altista e os outros
tinham dificuldade em entender sua maneira especial.
Cercada de todo carinho,
especialistas, melhores clubes, as tentativas de trazê-la para o mundo comum
eram ineficientes.
Mas havia uma coisa que ela
gostava muito, que aceitava com prazer, que era passear todas as tardes com a
babá Eva, na orla perto de sua casa.
Em um desses passeios, um
carro parou um pouco mais adiante e alguém atirou um cachorrinho pela janela do
carro e saiu em disparada.
Laura ficou olhando
aparentemente sem entender a cena e o cachorrinho ficou ali parado por instantes,
como a se perguntar o que foi que eu fiz?
Eva, que adorava animais, ficou
revoltada com abandono cruel e chamou o bichinho para perto delas, que se
sentaram em um banco de pedra.
Ele veio. Devagar, meio
desconfiado e Eva falava com ele que viesse, que ela iria procurar um abrigo para
ele.
Ele se achegou, olhou para
Eva e escolheu o colo de Laura. Coisa rara aconteceu. Laura abriu um sorriso
como que entendendo a escolha.
Elas levaram o bichinho para
casa o que não deixou os pais de Laura contentes.
Eva argumentou que seria só
até o final do horário de trabalho dela, que ela o levaria com ela.
Laura reagiu.
Encontrou uma maneira de
protestar, se abraçou ao cachorro e tomou posse.
Ninguém ousou contrariar
Laura, se consolaram dizendo: amanhã ela esquece.
Não esqueceu.
Tentaram arrumar um local
para o novo hóspede, mas Laura não permitiu.
Ele não seria um hóspede
apenas, seria seu amigo, o amigo que a escolheu e a fez entender isso.
Ele virou o companheiro de
Laura, em casa, na escola especial e nos passeios com Eva.
Era ele e só ele que
conseguia tirar um sorriso da Laura, trazê-la para cá, para o mundo comum.
Os psicólogos aconselharam a
deixar o cãozinho com ela, até que ela, por si mesma saísse da companhia dele.
Mas não foi como aconteceu.
A amizade só crescia, e
resolveram escolher um nome para o amigo da Laura.
Escolheram Bob. Laura gritou:
Não!
Estava certa, se o amigo era
dela, quem lhe daria o nome era ela.
E para surpresa de todos ela
escolheu o nome “Amigo”.
Mais do que justo e
apropriado.
Ele era o único amigo dela.
A partir disso, Laura ficou
mais tempo em terra, e já fazia desenhos, participava das músicas na escola,
desde que “Amigo” estivesse junto.
Quase um ano depois do
resgate, em um desses passeios pela orla, apareceu uma pessoa reclamando que o
cão era dela.
Dizia que que alguém lhe
havia roubado e que ela vinha, desde então, procurando por ele.
Eva levou o caso aos pais de
Laura que se agarrava mais ao amigo como se estivesse percebendo o perigo de
perdê-lo.
Um advogado aconselhou o pai
de Laura a pedir provas de que “Amigo” pertencia de fato a essa pessoa, que
mostrasse foto, indícios da procura, o nome dele, qualquer coisa.
Ela se negava
E prometeu entrar na justiça
para pegar o seu cão de volta.
O pai de Laura disse para ela
ir em frente.
A mãe de Laura lhe ofereceu
dinheiro pelo cãozinho.
O Advogado orientou a procurar
a justiça e acabar com essa ameaça.
A mãe de Laura, procurava uma
saída pacífica, preferia pagar e se livrar do risco.
E você, que postura defenderia?