Quando o coração bate forte por alguém, a primeira coisa que pensamos é que essa pessoa é perfeita, e que esse amor vai durar para sempre.
Mas, e quando descobrimos que aquele amor não é perfeito, e que “sempre”
pode ser um tempo limitado?
Vale a pena insistir, apostar numa virada de jogo, esperar com dedicação
por tempo indeterminado?
Vamos acompanhar esta história e tentar encontrar respostas para essas
perguntas.
1980. Simone, de 24 anos de idade, festeja sua formatura do curso de enfermagem.
Já saía da universidade com um trabalho. Isso tornava ainda mais
gratificante os anos estudando duro e com muito sacrifício.
Mas, o que importava é que havia chegado lá, no auge de seu desejo, ser
uma enfermeira trabalhando num conceituado hospital.
A expectativa era grande para seu primeiro dia de trabalho.
Meiga e simpática, não demorou a conquistar os novos colegas. Fez
amizades nos primeiros dias.
Dentre todos eles, o coração bateu diferente por André, um enfermeiro já
experiente, que demonstrou sentir o mesmo por ela.
Começaram a sair juntos e o sentimento foi fluindo e aumentando, até que
começaram a namorar.
No trabalho e fora dele, existia uma sintonia entre os dois namorados
cada dia maior.
André dizia ter dificuldades financeiras, devido a família grande e
pobre, e Simone o ajudava sempre que podia.
Tinha um bom salário e dividia
o apartamento com uma amiga.
Desta forma lhe sobrava algum dinheiro.
Passados dois anos, Simone conversou com André sobre os dois morarem
juntos.
Ele disse que queria muito, mas precisa encaminhar seu irmão mais novo
para que dividisse com ele o suporte à família.
Tentavam aproveitar o tempo de folga da melhor maneira possível, sempre
com viagens curtas, mas prazerosas.
Em uma dessas viagens, um casal amigo de André se aproximou dele e
perguntou pela família.
André disse que estava tudo bem e os amigos perguntram pelas mulher e os
filhos.
Simone ia chegando e pode ouvir a pergunta, que embaraçou André.
O casal percebeu o constrangimento e se afastou. Agora a conversa seria
entre ele e Simone.
− Cartas na
mesa! – Disse ela.
André não sabia como contar para Simone que era casado e pai de dois
filhos.
Viu o quanto Simone estava chocada e tentou acalmá-la da forma menos
original possível: —calma, Simone, não é bem assim.... na verdade eu fui casado e tenho dois
filhos. Minha ex mulher e eu terminamos de forma muito difícil e evito falar nela.
— Sim, e as
crianças? - Perguntou
Simone.
— Quase não as
vejo. Ela não me deixa ver as crianças. É sempre muito difícil. - Explicou ele.
Simone não conseguia sair do choque. Mil perguntas ao mesmo tempo
perturbavam sua cabeça.
André tomou posse do momento e argumentou: —minha
querida, olhe bem, estamos aqui em viagem, e essa não é a primeira vez. E
quantas vezes saímos juntos durante a semana e fins de semana?
Se eu fosse casado e morasse com minha mulher, isso seria possível?
Simone, olhou, pensou, ponderou... e sim, André tinha razão. Nenhuma
mulher aceitaria isso.
Se sentiu boba e pediu perdão. Terminaram o resto do dia em plena
harmonia de amor.
Pouco tempo se passou depois desse episódio.
Um dia André não foi ao trabalho. Simone ficou preocupada. Ligou para
ele mas não teve resposta.
Pensou em ligar para a casa dele, mas lembrou que os pais já eram de
idade e não tinham muita aproximação.
E se tivesse acontecido alguma coisa com ele, como diria isso à família?
Estava ficando desesperada e uma colega se apiedou dela e a chamou para
conversar.
—Simone, -
começou ela. — Eu não tenho
nada com a vida de ninguém, mas vendo o seu sofrimento, eu preciso lhe dizer
que André está bem. Aliás, bem e feliz. A filhinha dele acaba de nascer e ele
está acompanhando a esposa que esconde de você.
Pode dizer que fui eu que falei. Se quiser te dou o endereço do hospital
que ele esta agora.
Ela aceitou. Precisava ver. Precisava entender. Precisava da verdade
para lhe tirar dessa falsa ilusão.
Foi, viu e conferiu a verdade mais terrível de encarar. Estava sendo
enganada. Saiu dali devastada.
Recebeu uma ligação de André contando que teve um problema com os pais e
não teve como avisá-la. Simone nada falou do que soubera.
À noite se encontraram normalmente.
Simone então, contou que sabia de tudo.
André insistiu que não era verdade e que saiu só uma vez com a mulher
para tentar convencê-la a deixá-lo ver os filhos.
Ainda, que foi ao hospital como pai e estava tudo resolvido entre eles.
Que ela iria assinar o divórcio e assim que saísse eles casariam.
Simone se fez enganar. Sabia que ele mentia, mas pensou que seria
difícil ficar sem André.
1995. André e as mesmas desculpas. Agora já assumia que
vivia com a família por causa dos filhos, que logo eles estariam independetes e
ele resolveria a situação.
2002. Simone dedicava sua vida a André e a construir a
casa que seria deles, agora com os filhos adultos, o divórcio sairia breve.
Simone ajudava André em suas despesas com o divórcio.
Fazia plantão extra para ajudá-lo no que sabia não ser verdade mas insistia
em acreditar como se fosse a última coisa que lhe restava.
2010. Passados 30 anos, André já não era aquele rapaz das
juras de amor. Simone tentou saber o que o fizera se afastar tanto.
Conheceu a casa, os móveis e todas a estrutura que André construíra para
a família, com ajuda dela.
A casa que ela se iludiu pensando que um dia seria dela.
Agora ele não tinha mais o que esconder. Só tinha uma proposta para
Simone: viverem para sempre de encontros
fortuitos, como estava acontecendo ultimamente.
Simone olhou para trás, viu trinta anos de sua vida estagnados, parados
como água turva num rio sem vida.
Numa decisão doída, deixou André junto às águas paradas e seguiu em
busca de águas correntes.
Se aposentou e foi morar em um sítio longe da cidade.
Mas não iria parar de ajudar aos outros. Acostumada a não cuidar apenas de si mesma,
dedica-se a resgatar das ruas, gatos − sua
paixão que deu certo − doentes e abandonados, e assim,
resgatar também um pouco de si mesma.
E você, encontrou respostas ao longo dessa história?