É perdoável, em nome da paixão, querer o impossível, ultrapassar o limite da velocidade da luz, vencer barreiras e chegar sem se importar em machucar o outro?
Nossa história nos fala de uma paixão assim, que nasce de um olhar e vai além do limite do razoável, do permitido, como numa fantasia contada no cinema ou em casos na internet.
Uma família de três irmãos e uma irmã viviam numa cidade afastada do centro.
Depois da morte dos pais, continuaram morando na mesma cidade, como era a vontade deles, cada um em suas casas, uma perto da outra.
O mais velho era casado e os três mais novos, solteiros. Miriam, a irmã, morava com Valdo, o irmão do meio, que era militar e viajava muito a trabalho.
O mais jovem, Luiz, trabalhava na agricultura, profissão também exercida pelo mais velho, José.
Luiz encontrou uma jovem muito bonita e gentil e se casou com ela em pouco tempo.
Valdo não pôde participar da cerimônia pois estava em viagem de trabalho.
Alguns meses depois, quando Valdo retornou de sua viagem, José, o irmão mais velho, fez um jantar para a família. Queria reunir todos, o que não puderam fazer na ocasião do casamento e assim Valdo conheceria sua cunhada.
A casa estava animada, com muitas luzes e muita comida como era costume naquela região.
Valdo e Miriam chegaram primeiro e começaram a conversar com José sobre os últimos acontecimentos na família.
— E então, meu velho, conte-me aí, o que você tem aprontado em terra alheia, não encontrou ninguém forte para te prender? – Perguntou José.
— Meu irmão, vou te confessar, não achei e não vou achar. O coração aqui é de aço e não aceita laço – respondeu Valdo rindo da conversa animada.
— Pois olhe, o Luiz, como você conhece muito bem, não se dobrava nem se o mar secasse, e taí, ó, casadinho, casadinho. Manso que nem um cordeiro.
− Tô sabendo... mas meu nome é diferente; e pra me derrubar do cavalo, nem os santos todos juntos.
Continuaram nessa conversa até que Luiz e a esposa Anete chegaram.
José, com muito bom humor fez as apresentações.
Valdo ficou no mesmo lugar, não conseguia se mexer, deixando um clima de constrangimento.
— O que foi meu irmão, não está se sentindo bem? – Está tudo certo, eu é que bebi demais antes de comer - disse Valdo.
— Então vamos lá pessoal, vamos comer que o Valdo está passando mal de fome, brincou José.
Todos sentaram-se à mesa e jantaram animados por uma boa conversa e muito riso.
Valdo não conseguia conter a inquietação que estava sentindo. Todo mundo já notando o desconforto dele.
Para animar o irmão, Miriam sugeriu cantarem e dançarem para alegrar o pobre do Valdo que parecia estranhar a família, alí, isolado e pensativo.
Em pouco tempo de música e dança estavam todos animados, inclusive Valdo.
Luiz, que dançava com Anete, sua esposa, vendo Valdo dançar com Miriam, sua irmã, num passe de brincadeira trocou os pares.
Valdo tremeu. Precisou se controlar muito para conseguir dançar. Sentiu o perfume de Anete e se deixou levar pelo que estava sentindo. Um sentimento bruto, estranho para ele, que nunca havia se apaixonado de verdade.
Desejou Anete, sentiu em uma fração de segundos todos os anseios dos apaixonados e disse em seu íntimo: você vai ser minha!
Deixou Anete perto do piano e lhe disse baixinho: — Amanhã eu vou te buscar.
Anete não entendeu o que ele quis dizer e pensou que ele dissera que os visitaria, a ela e ao marido em sua casa.
Esqueceu o assunto e aproveitou a festa.
Enquanto isso, Valdo foi para sua casa sem conseguir tirar Anete de seu pensamento. Passou o resto da noite acordado, esperando que o dia amanhecesse.
Foi sua noite mais longa. Fumava um cigarro atrás do outro.
Em alguns momentos sentia raiva daquele sentimento errado, mas o resto do tempo lembrava Anete e reviveu em sua mente o momento mágico dos dois dançando.
Sentia-se absolutamente dono daquela mulher. E começou a sentir raiva de seu irmão que a tinha em seu lugar.
Inquietava-se e falava consigo mesmo. Pensou em desabafar com Miriam, mas tinha certeza da desaprovação.
Não, não era isso que queria. Queria ouvir alguém que dissesse que ele estava certo, que tinha todo o direito sobre Anete, até porque seria impossível Luiz amá-la mais do que ele a estava amando.
Se sentia superior a Luiz, superior a todos os homens, somente ele merecia ter o amor de Anete. Somente ele saberia fazê-la feliz.
Fez um café e foi tomar na varanda. Organizou todas as suas próximas atitudes em sua cabeça, pegou sua arma e saiu.
Passava das dez horas da manhã. O casal Luiz e Anete tomavam café e comentavam sobre a festa.
Alguém bateu na porta e Luiz foi atender. Era Valdo que passou por ele sem lhe notar e foi até Anete e disse: — Vim te buscar! - Já segurando a mão dela que não entendia nada.
- Que conversa é essa, meu irmão? Buscar para onde, para quê?
Valdo não respondeu e foi andando e Anete lhe perguntando o que havia acontecido. Teria sido algo com Miriam?
Luiz lhe fez a mesma pergunta: — Aconteceu algum problema com Miriam?
— Não, nada aconteceu com Miriam - respondeu ele. E continuou: — Vim buscar Anete para ficar comigo, como minha mulher.
— Ficou louco, rapaz? Deixe a minha mulher e saia daqui antes que te arrebente.
Luiz pulou sobre Valdo e os dois lutaram até a rua. Diante dos gritos, a vizinhança já se aglomerava em suas portas para ver o que acontecia.
Valdo sacou a arma e chamou Anete, que o acompanhou passiva e com medo de uma tragédia maior.
Luiz pediu para Anete não ter medo e não ir. Ela disse que iria falar com Valdo e logo voltaria.
Chegando em casa, Valdo sentou-se com Anete e lhe contou o que sentia desde o primeiro momento.
— Sim, posso até entender, mas sou casada com seu irmão e espero um filho dele que ainda nem sabe.
— Não é mais, Anete. Me dê a chance de lhe provar que posso lhe conquistar. Só isso. Me dê essa chance por favor!
— Acho que você deve estar louco. Como vai me conquistar se me tirou de casa, do meu marido, sem ao menos perguntar se eu queria vir com você?
— Você tem razão, minha querida. Estou louco. Mas é de paixão, louco e preso por um sentimento sem explicação. Mais uma vez te peço: me dê uma chance, UMA!
Sabendo do ocorrido, José, o irmão mais velho, depois de conversar com Luiz, lhe disse para se acalmar que iria trazer Anete de volta.
— Não faça isso - disse Luiz. — Não quero mais. Se ela foi com ele, devem ter combinado tudo ontem enquanto dançavam e devem conhecer-se de antes.
Continuou: — deixe que os dois se danem! Não tenho mais irmão, não tenho mais mulher.
José tentou acalmá-lo em vão. Luiz estava devastado com o que estava acontecendo e nada lhe tirava da cabeça que os dois já se conheciam.
Miriam ouvindo a conversa de Anete e Valdo, chegou até eles sem entender o que estava acontecendo. Valdo pediu para que ela saísse, que precisava conversar com Anete.
— Escute aqui, Valdo, isso é uma loucura. Eu sou casada, e casada com seu irmão. Por favor, nos respeite e me deixe ir embora sem confusão.
— Anete, você tem razão. Eu estou em um estado de loucura, uma louca paixão nasceu dentro de mim quando te vi. Não sei explicar. Mas te sinto minha.
E continuou: — mas antes de sair me mate, porque a vida não terá mais sentido sem você!
— Chega de drama Valdo. Além de ser meu cunhado eu nem o conheço.
Nesse momento chegou José.
— Pois muito bem, posso saber o que está acontecendo? De onde vocês dois se conhecem?
— De lugar nenhum – respondeu Anete.
— Não é o que seu marido pensa, inclusive está tão certo disso que não quer mais saber de nada. Me pediu para lhe trazer suas coisas e pediu para não cruzar o caminho dele, nenhum de vocês dois.
— Está vendo, Valdo, a confusão que você criou? Eu vou lá sim, para minha casa e para meu marido.
José aconselhou calma e dar tempo para que Luiz colocasse a cabeça no lugar e a chamou para ficar em sua casa até tudo se resolver.
— De jeito nenhum – gritou Valdo. Ela vai ficar aqui comigo e você é quem vai sair.
Os dois brigaram, se esmurraram e Valdo conseguiu afastar o irmão, ganhando mais um inimigo.
Valdo pediu a Anete que ficasse com ele e Miriam, que nada de mal faria com ela.
A família de Anete também acreditou que ela e Valdo já se conheciam antes, e de repente Anete só tinha Miriam e Valdo ao seu lado.
Ficou na casa, deixou os dias passarem. Virou princesa para Valdo que vivia aos seus pés lhe enchendo de mimos e vontades.
Teve o filho e mandou avisar a Luiz que disse não ter irmão, esposa e muito menos filho. Se Valdo quis a mulher dele, pois que ficasse com o filho também.
Valdo aceitou o presente e recebeu Nádia, a filha de Anete com muito amor, já ganhando o coração de Anete.
Valdo vivia para sua amada e a tratava como uma rainha. A vida foi passando e os filhos chegando. Tiveram seis filhos e Nádia era contada como a primogênita.
Com os irmãos, Valdo e Anete nunca mais falaram. Viviam como desconhecidos, restando apenas Miriam, que ajudava com as crianças até encontrar um amor e casar-se.
Luiz foi embora da cidade sem dar notícia a ninguém.
Os filhos cresceram e nesses quarenta anos, Valdo tem cumprido todas as suas promessas à Anete com a mesma paixão que sentiu no primeiro dia em que a viu.
Continuam morando na mesma cidade, na mesma rua e na mesma casa.
Seus vizinhos nunca esqueceram do episódio, e eles aprenderam a viver com o que só lhes interessa sem se incomodar com ninguém.
Não se julgam e nem se condenam.
Valdo se alimenta do amor que diz não mudou nada. Anete vive das juras de amor de Valdo que lhe fazem feliz.
“De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento” Vinícius de Moraes
13 comentários:
Que inusitado!Dores para uns e satisfação para outros.
Uma paixao resistir 40 anos não foi um brincadeira.
Esse amor de verdade absolve Valdo.
Não se julga as razões do amor. Ele chega e faz
de sua vida seu alimento. O amor do Valdo veio
com a força da verdade. Não foi amor de brincadeira,
foi amor para vida toda, o que nos ajuda a compreender
seu comportamento. Abraços ao pessoal do blog!
Em 40 anos Valdo pode provar que a loucura que sentiu por Anete
era saudável, real e palpável. Ninguém de caráter joga a si mesmo
em um abismo de censuras e dificuldades. O mais importante
é que o dois são felizes. Era para ser assim.
História forte! Agradeço ao blog mandando meu amor a todos!
Oh my heavens!!! I didn't want to take the place of either of them Valdo or his family. But Valdo accomplished his word by making Anete happy. That is priceless. Congrats!
Desejo que sejam felizes a vida toda. Para tanta loucura, riscos
e perdas, só uma paixão real.
Parabéns ao blog por dividir conosco!
Talvez fosse amor de outra vida e ele quis reviver nessa pela paixão fulminante que sentiu por Anete
Uma gangorra de emoções! Parabéns pelo relato.
Concordo com as palavras de Elke: uma verdadeira "gangorra de emoções".
Uma paixão fulminante atingiu o "difícil" Valdo. E o amor, ao longo do tempo, venceu.
Parabéns ao pessoal do blog.
Muita emoção, parabéns, belíssimos descritivos, por isso sou um apaixonado....
Parece uma estória de contos de fada !
Even though it sounds like this a story about Valdo and Anete...the story is just as much about Luiz. A cautionary tale...Valdo was unreasonable and unstable, his actions completely outlandish. And yet, for someone who didn't know how to love his family, he proved he could love Anete in a way that won her over and built a life. Luiz...now...Luiz had everything...he was wronged and disrespected and in the end, he is the loser, because he didn't know how to fight for what was his, for the one he said to love...so I question his love to begin with...he let his pride, his prejudice and his weakness get the best of him and proved he could not love enough to keep Anete, so he lost her and the opportunity to build a life. A love that cannot trust, it's not love at all. So...congratulations to Valdo and Anete for making the impossible happen. May the life they build together always grow stronger.
Cinco cantos agradece a visita e a opinião de Vida, Cecilia, Steven, Navena, Guilherme, Lea, Dinah, Elke, Eduardo, Mantoliva, Anônimo e Alex.
Realmente uma historia plena de emoções e sentimentos. Uma roda gigante de sentimentos com diversos aspectos diferentes como bem observou Alex.
Assim como a vida é.
Lembramos que as historias são reais e ja temos uma nova publicada.
Novamente, agradecemos a todos.
Cinco cantos is grateful for the visit and the opinion of Vida, Cecilia, Steven, Navena, Guilherme, Lea, Dinah, Elke, Eduardo, Mantoliva, Anonymous and Alex.
Really a story full of emotions and feelings. A Ferris wheel of feelings with several different aspects as Alex well observed.
Just like life is.
We remind you that the stories are real and we already have a new one published.
Again, we thank you all.
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