“Na verdade, embaixo da pele, todo mundo é vermelho!”
Mas vamos deixar essa questão para mais adiante, vamos ver o comecinho
de nossa história conhecendo uma família do interior do Brasil.
Lá, distante da capital, nasceu Nate, o apelido de Natália, filha única
de Rosa e neta de dona Arminda.
Rosa nunca contou para niguém quem era o pai de Nate. O que se sabe é
que ela era namoradeira, mas se apaixonou por um rapaz que nunca se deixou ver
com ele.
Nascida Nate, Rosa deixou o encargo maior de criar a menina para sua mãe
e saía para trabalhar.
Depois de ter a filha, nunca mais quis namorar. Cobriu-se de desgosto e
depois do trabalho encontrava-se com alguns amigos na vendinha perto de casa
para desopilar tomando uma cerveja.
Com o tempo esse hábito foi se tornando parte de sua rotina e a bebida
virou conforto para os dias tristes, celebração para os dias alegres, remédio
para quando estava doente... enfim, tornou-se parte principal de sua vida.
Dona Arminda reclamava, aconselhava e falava o quanto Nate precisava
dela. Já estava crescida e se envergonhava ao ver a mãe trocando as pernas ao
andar.
Nate era muito inteligente e dona Arminda a incentivava a estudar para
ter uma profissão e uma vida diferente daquela em que viviam.
Os conselhos não foram em vão. Nate seguiu a cartilha da avó e se
preparou para ser sempre a melhor da classe.
Aqui começa a nova vida de Nate, quando foi convidada para se inscrever
em uma faculdade nos Estados Unidos.
Conseguiu êxito e apoio dos professores e amigos que cativara desde que mudou-se para a capital para estudar, tudo
com ajuda de sua avó, através de suas patroas, para quem fazia faxina.
Chegou o dia de sua viagem, iria conhecer um mundo novo, diferente,
sabido só através dos livros e filmes que tanto gostava.
Agora já no avião, sua mente passeava entre as mais remotas lembranças
com sua mãe presente e ao mesmo tempo distante; sua avó cheia de sabedoria e
proteção...
E agora, como seria sua vida? Teria amigos? Amores?
Dormiu. Acordou já no país do Tio Sam.
Na nova terra o frio do começo de outono lhe despertou. Sentiu também um
frio na barriga, mais forte de que todas as outras vezes que enfrentara novas
situações.
Quando chegou no Campus da Universidade teve a sorte de dividir o alojamento
com outras três garotas que se
identificaram de imediato.
Ponto para sorte de Nate. Começou a sentir-se mais à vontade e em poucos
dias eram um grupo animado e divertido.
A noite
estudavam na biblioteca e fugiam um pouco para a cafeteria.
− Olha lá,
Nate, aquele bonitão está olhando para você! – Apontou Rebecca.
− Para mim?
Imagina!
− Sonsa!!
Disseram todas rindo muito.
Os encontros “casuais”
ficaram frequentes e Nate já sentia falta da presença do “bonitão” quando ele
não aparecia.
Seu nome era
Joe, aluno do 4˚ ano do mesmo curso em que a Nate estava começando.
Como ficamos
sabendo? A chefe do Grupo, Alícia, que
era o capeta em figura de gente, se encarregou de descobrir a vida inteira do
rapaz.
Mandaram um
torpedo para o tímido Joe em nome de Nate o convidando para o aniversário
imaginário de uma delas, e outro torpedo para Nate a convidando para o
aniversário de Joe.
Plano
perfeito? Parece que sim. Funcionou para o encontro, e as boas gargalhadas dos enganados
e o início de um namoro cheio de paixão.
Tudo que todo
mundo quer.
Passaram-se alguns
meses e Joe começou a falar de Nate para a familia. Queria que eles a
conhecessem.
Eles moravam
em um estado não muito longe e começavam a planejar o encontro com Nate, que a
chamavam de “a brasileira.”
— E a
brasileira, Joe? Como vocês estão indo? – Perguntava a mãe.
— Está bem e
feliz, mãe. Sempre manda recomendações a todos.
— Mande o
mesmo, querido e nos mande uma foto dela, imaginamos que seja muito bonita. As
brasileiras são bonitas, alegres, muito mais bonitas de que essas branquelas
americanas sem sal.
Joe tentava
sair logo da conversa. Como diria para a mãe que Nate era bonita sim, mas era
branca, tão branca quanto as americanas?
Por isso evitava
mandar qualquer foto dela ou alongar o assunto. Conhecia sua mãe e o quanto ela
era radical e orgulhosa em ser afrodescendente, jamais aceitaria uma pessoa
branca na família.
Joe apostava
no carisma de Nate e contava como certa a aceitação dela na família dele.
Cada dia os
dois, Nate e Joe, ficavam mais apaixonados e começavam a fazer planos.
Era um casal
feliz e não se incomodavam com o fato de raça ou cor. Para eles, o amor não
tinha cor específica, mais ainda: o amor não precisa de cores para ser radiante
e forte.
Tinham uma
grande afinidade, um objetivo e a vontade de ficarem juntos. Isso era o
suficiente.
Chegou um
feriado e eles encontraram a oportunidade de ficarem uns dias com a família de
Joe. Seria a oportunidade para Nate encantar a todos como o encantou − pensou
ele.
Não contou
para Nate o modo de pensar de sua família e da maioria dos grupos afrodescendentes
nos Estados Unidos.
Pouco falavam
sobre coisas que para eles não tinha importância, ou não fazia diferença como
era o caso do preconceito velado por parte dos brancos e aberto por parte das
pessoas afrodescendentes.
Em uma tarde
quente de quase final de primavera, o casal chegou para o ansiado encontro.
Entraram e Joe
foi logo gritando por sua mãe: — Mãe, venha aqui! Depressa antes que a
brasileira se arrependa e vá embora – Brincou ele.
A mãe veio no
mesmo tom de alegria do filho: segura ela aí, filho, estou indo!
Dona Evelyn
vinha quase correndo e parou de uma vez quando viu os dois, filho e futura nora
de mãos dadas em sua sala.
Ficou em
choque. Fechou a cara e chamou Joe para outra sala deixando Nate sem saber o
que estava errado.
Segundos
depois, Nate descobriu o que estava acontecendo quando ouviu a voz alterada de
dona Evelyn perguntando ao filho: — Que raios te fizeram trazer esse lixo
branco aqui para dentro de casa?
— Calma, mãe,
vamos conversar. Fale mais baixo que ela pode ouvir.
— Quem se
importa? Respondeu a mãe muito brava.
— Mãe, a gente
está junto e é para valer. Ela pouco se importa com essa coisa de cor ou raça
e eu, menos ainda.
— Mas eu me
importo! – disse dona Evelyn. − E se você quer ficar junto com ela, que fique,
a escolha é sua. Mas saiba que você morre para mim e eu para você.
— Mãe, veja
que situação você me coloca. Seja razoável – implorou Joe.
— Escute aqui,
senhor Joe, pense e faça sua escolha. Leve essa pessoa daqui. Te dou uma hora
para você resolver com quem você escolhe ficar: com sua família ou com ela.
Joe Sabia que
a mãe estava falando sério. Saiu levando Nate e tentando explicar o que não
tinha explicação e nem sentindo para ela.
Ele lhe disse
que precisa conversar com a mãe, acalmá-la e que a deixaria em um hotel e
voltaria em seguida.
Nate,
desapontada, cheia de questionamentos, com a vida inteira passando em sua
frente, ligou para a amiga Rebecca pedindo que lhe mandasse dinheiro para ela
ir embora.
— Quando eu
chegar te conto, amiga. Só preciso desse favor agora porque como você sabe não
tenho nem onde cair morta.
— Calma,
amiga. Procure um lugar onde tenha possa receber um envio rápido de dinheiro e
te mando o dinheiro agora.
O grupo fez
uma reunião de amigas em caráter de urgência.
Precisavam
fortalecer a Nate, dar apoio, interferir, fazer qualquer coisa para eles não se
separarem.
Horas depois,
Nate chegou no alojamento e tentou explicar a situação para suas amigas.
Ela não parava
de chorar e repetia que não entendia a atitude da mãe de Joe e muito menos a do
próprio Joe, que deveria estar ainda na casa de sua mãe; ter tido uma conversa
e a deixado falar com ela.
Mais tarde,
Joe chegou e tentou conversar com Nate que não queria conversar naquele
momento. Precisava pensar, digerir o ocorrido.
O grupo amigo
entrou em ação e conseguiu contornar tudo explicando para Nate um pouco mais
dos motivos de dona Evelyn e a importância para os dois se unirem agora em nome
do que sentiam.
Joe contou
para Nate que não concordava com a mãe mas compreendia suas dores. Que havia
dito para ela que não tinha como escolher entre ela e Nate.
Mas preferia
viver esse amor, e que estaria sempre ali para ela, sua mãe.
O tempo passou
e dona Evelyn não arredou o pé da decisão de não querer mais contato com o
filho.
Não atendia
suas chamadas, bloqueou os contatos digitais e devolvia as cartas que Joe
enviava numa tentativa de alcançá-la.
Chegou o dia
de sua formatura e Joe mandou o convite para a mãe, que logo devolveu.
Joe e Nate casaram
e mandaram o convite para dona Evelyn
que prontamente também devolveu.
Eles estavam
felizes, mas a alegria não era completa. Joe sentia falta da família, e Nate sentia
falta de ter uma família e desejava muito se unir à família de seu amado.
Nasceu o
primeiro bebê de Joe e Nate.
Eles então, mandaram
a foto do bebê para dona Evelyn. Notando que em todas as outras tentativas ela
não se dera ao trabalho sequer de abrir o envelope, Joe escreveu por fora em
letras garrafais:
MÃE, NOSSO CORAÇÃO
ESTÁ ABERTO. DENTRO DESTE ENVELOPE ESTÁ A FOTO DE SUA PRIMEIRA NETA, EVELYN, EM
SUA HOMENAGEM. TE AMAMOS!
Dona Evelyn
recebeu o envelope como recebia toda a correspondência do filho, e como das
outras vezes a devolveu.
A diferença é
que desta vez ela foi devolver em pessoa.
Nate a recebeu
com um abraço e dona Evelyn correu para abraçar sua neta, de sangue vermelho,
assim como o dela.
Percebeu que
quando queremos, a vida tem a cor branca, que representa a paz e a cor preta
que representa a força acima de todas as cores.
"... nem tudo na vida precisa ser colorido, basta ser em preto e branco. Simples assim!" [ Lenilson Xavier]
15 comentários:
Que história extraordinária!
O importante é que o amor venceu o preconceito.
Cor é apenas um pigmento da pele. Não faz ninguém melhor ou pior
O amor não precisa de cor, precisa de intensidade.
No fim das contas, como diz o começo da história:
embaixo da pele todos nos somos vermelhos!
Linda história !!!!
Belo Blog parabéns!
Muito bem .. sempre uso isso como
Referências.. raça existe uma a humana..
Etinias várias
Mas o amor sempre prevalece
Sobre todos
Pois somos apenas humanos
Aprendendo a viver..
Parabéns... Poeta escritor...
Parabéns...
Mais uma vez uma história extraordinariamente bela e profunda.
Desde a vitória pessoal de Nate, estudando e indo morar no país de seus sonhos, até a vitória do amor, que sempre prevalece sobre qualquer tipo de intolerância.
Parabéns ao pessoal do blog que sempre nos contempla com essas historias magnificas.
Como sempre, lindíssimo!
E ficamos feliz em saber que o amor se supera contra qualquer seja a cor, raça ou etnia. Parabéns.
Que linda e edificante história poeta
Expressou com clareza à virtude do amor.
Parabéns!
In the face of impossible choices, the only road to take is the where your heart leads...That Joe was brave enough to take that road is amazing! Because it didn't end with choosing to love Nate...the road he chose kept his heart open and hope alive...and no wonder, a miracle happened. So glad that Ms. Evelyn could see past herself, past her fears. I do love a happy ending! ;-)
Lindo texto! Parabéns!
Abraço,
Diana Scarpine.
O Amor é de todas as cores. Joe e Nate souberam colorir esse sentimento tão lindo. Amei o casal.
Joe e Nate não tiveram medo nem recuaram e salvaram o amor
deles. Me emocionei com o final. Parabéns ao blog!
Bonita história de amor de Nate e Joe, vencendo os obstaculos
impostos pelo ignorância. Melhor lição no entanto foi da Sra. Evelyn,
que deixou de olhar como os outros a olham, para olhar para o que é mais importante: a pessoa. Nesse momento ganha o prório respeito. Mando meu agradecimento e meu amor para o pessoal do blog por dividir conosco essa história tão especial.
Cinco Cantos agradece a visita e a opinião de Vida, Dinah, Lea, Elke, adilsoncentury21,Anônino, Eduardo, Tobias, Ana, Alex, Diana, Cecilia, Rochela e Navena.
Joe e Nate souberam amar e ao final a Sra.Evelyn também. Como disse Navena "vencendo obstáculos impostos pela ignorância".
Lembramos que as historias são reais e já temos outra publicada.
Cinco Cantos thanks Vida, Dinah, Lea, Elke, adilsoncentury21, Anônino, Eduardo, Tobias, Ana, Alex, Diana, Cecilia, Rochela and Navena for visiting and for their opinion.
Joe and Nate knew how to love and in the end Mrs. Evelyn too. As Navena said "overcoming obstacles imposed by ignorance".
We remind you that the stories are real and we already have another one published.
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