quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Rua Santo Ventura, nº...

 


Férias escolares de fim de ano. Donato e Eliza contam a Jonas, de 15 anos, único filho do casal, que iriam passar as férias no exterior. Jonas ficou animado e foi contar da viagem para sua namorada, Nina.

Nina, era uma boa garota, também adolescente como Jonas, mas não podia sonhar com uma viagem assim.

No início eles namoravam escondido. A família de Jonas tinha medo de deixá-lo andar no bairro perigoso em que Nina morava.

Com o tempo, para acalmar a rebeldia de Jonas, permitiram. 

Nos sonhos de namoro, Jonas prometia a Nina que quando terminassem os estudos, e tivessem um bom trabalho, iriam viajar a muitos lugares. 

Viajariam até a lua e astros, montados numa estrela linda!

Eles riam da loucura dos sonhos, mas era tão bom sonhar e estavam tão apaixonados, que juravam que esse amor nunca iria acabar. Duraria para sempre, eternamente, até depois da vida. Juras seladas com beijos inocentes de puro amor.

Logo depois que chegaram ao novo País, Jonas foi informado pelos pais de que a mudança era definitiva. Jonas se revoltou, se sentiu enganado.

Escreveu para Nina contando tudo, pediu para que ela o esperasse, que ficariam assim, se correspondendo até sua volta, e então poderiam realizar o sonho de viajarem pelos astros como sonhado.

O pai o levou até os correios para enviar a carta. Mas o deixou no carro  e foi ele mesmo -  como dono do dinheiro - enviar a carta, o que não aconteceu.

Jonas se sentiu aliviado. Pensou que logo receberia resposta de Nina dizendo que sim, esperaria por ele até o mundo acabar, até depois de depois, se assim precisasse.

Donato, sem nenhum remorso, entregou a carta roubada para Eliza e disse para ela dar fim  naquilo que ele não pode fazer.

Os dias se passaram e nenhuma resposta de Nina. Os pais começaram a dizer que Nina era volúvel, que estava com ele enquanto ele a levava para se divertir.

Jonas ficou desanimado e resolveu esquecer, já que Nina aparentemente o havia esquecido. Com o tempo, casou, foi pai de duas meninas e depois de quarenta anos ficou viúvo.

Tinha poucos amigos, e devido ao que passou com os próprios pais, não confiava em quase ninguém. Suas filhas eram sua companhia. 

Foi ficando melancólico. O pai morreu e ele passou a cuidar da mãe, já doente.

A saúde de Eliza só piorava e ela precisou ficar no hospital. Jonas ia vê-la todos os dias.

Eliza, já quase sem força para falar, perguntou a Jonas porque ele não se casava de novo, e por que era sempre tão melancólico.

Jonas ouvia sua mãe com os olhos perdidos no nada. Ela repetiu a pergunta, despertando o filho do vazio em que se encontrava.

Jonas foi sincero e disse: -sabe, mãe, eu não sou feliz. Desde que viemos para esse País eu não tenho alegria. Trago comigo muitos sentimentos, dentre eles o sentimento de rejeição.

-Lembra daquela minha namorada? Continuou Jonas. Me causou um dano muito grande. Eu tinha certeza que era amor de verdade, que duraria pra sempre.

Não me queixo do meu casamento, mas foi um casamento apático. Nós nos toleramos nesses anos baseados apenas no respeito e na tradição que a sociedade nos impõe, e na vontade de criarmos nossas filhas juntos. Mas nada muito além disso.

-Mãe... prosseguiu Jonas, por que será que a Nina me esqueceu tão depressa?

Jonas confidenciou suas frustrações como nunca fizera. Nem percebeu que sua mãe chorava. Só se deu conta quando a enfermeira veio trazer a medicação para Eliza e perguntou o motivo do choro.

Jonas se assustou e tentou se desculpar com a mãe. Ela lhe disse: - não, meu filho, quem precisa de perdão sou eu. Eu e seu pai, que já não está entre nós.

E lhe contou que a carta nunca fora enviada. Contou também que ousou ler a carta para ver as bobagens que uma criança escrevia. Foi tão bonito o que viu,  e não teve coragem de rasgá-la. Faria um dia, mas o tempo a fez esquecer da carta.

Jonas, disfarçando o quanto estava indignado perguntou pela carta, e onde a mãe a guardou. Não obteve  resposta. Eliza piorou muito pela emoção e remorso talvez, e não conseguia mais se comunicar. Morreu uma semana depois.

O desespero de Jonas só aumentou, e suas filhas e únicas amigas, pediram pra ele contar. Ele contou tudo. Linha por linha. Uma das filhas disse que  mulher adora caixas, e que guarda tudo nelas que é pra não perder. 

Partiram para casa de Eliza em busca do que parecia impossível. Olharam tudo e acharam uma caixa em imitação de caixa de fósforo. A carta estava lá, sã e salva.

Uma pergunta no ar: de que valia ter encontrado a carta agora? Uma das filhas sugeriu para alívio do pai, enviar a carta, provando para Nina sua dignidade, talvez isso o fizesse se sentir melhor.

Mas como mandar? Ele já nem lembrava o sobrenome da Nina que provavelmente já estaria casada, com família, nem lembraria que namorou um cafajeste que a enganou, fazendo mil promessas e não cumpriu nenhuma.

As filhas insistiram: -tenta, pai. Vai que tem um parente, uma amiga de infância que ainda mora por lá...

Sim, mandaria. Mas... mandaria para onde? Qual endereço? Tudo que lembrava era  o nome do bairro e da rua. Nem o número sabia. 

Foi caminhar, precisava de ar, de ideias, de um milagre, uma mágica, uma reza, qualquer coisa que o ajudasse.

A ideia veio: Jogar. Jogar com a sorte. Fez uma carta explicando  o que aconteceu e juntou à carta já amarelada. Mandaria num envelope grande e escreveria o nome da rua,  faria um desenho, pediria por caridade... enfim.

Assim fez. Começou assim no envelope: “Sr. Carteiro, aqui é um homem desesperado (...)”

Finalizou dizendo: “o nome dela é Nina. O endereço que lembro é Rua Santo Ventura Nº... não sei.”

Aquele envelope exagerado com aquele relato comoveu o carteiro. Este prometeu a si mesmo: se essa pessoa estiver viva e neste País, vou encontrá-la. Dor de amor acaba com a gente. E seguiu sua missão.

Parava em cada casa da Rua Santo Ventura, e fazia  indagações.

Até que uma alma do céu deu notícia.

 – D. Nina? Mora aqui mais não. Mudou faz tempo. Mora em outro bairro na casa do filho. O carteiro perguntou, quase confirmando: então Dona Nina é casada? Ao que a pessoa respondeu: não. D. Nina nunca se casou. É mãe solteira. Teve um menino que hoje é formado e vive muito bem de vida.

O Carteiro argumentou:

 - A senhora parece uma pessoa tão boa. Poderia me dar o número do telefone dela?

- Não, senhor. O senhor é carteiro mas não o conheço. 

- Por caridade! Implorou o carteiro.

- Por nada! Posso ligar pra ela  e falar. Serve?

- Serve muito. Faça isso por favor e Deus há de recompensar, amém.

Ela fez.

Nina recebeu a ligação e ficou sem acreditar. Claro que ela lembrava. Mas por que depois de tanto  tempo? Resolveu receber o mensageiro na entrada de seu prédio acompanhada do filho. Ela viu o envelope e pensou ser uma brincadeira.

Mesmo assim, leu. Ficou parada incrédula. Seu coração disparou e aquele namoro lhe veio à mente tão vivo quanto o que nunca morreu.

Falou com o filho. Tomou uma decisão. Iria responder a carta. Mas o que diria?

Tal qual Jonas, Nina precisa de palavras, de inspiração. Encontrou. 

Havia passado três semanas que Jonas enviara a “carta tentativa”. Começou a desanimar. Todos os dias esperava o carteiro na porta, iria vigiá-lo, para ter certeza de que entregaria todas as cartas. Todos os dias a mesma desilusão.

Era sábado, o carteiro passava mais cedo e Jonas lá, de plantão. Talvez fosse hoje. Quem sabe? Esperaria só hoje. Se não viesse não viria mais. O carteiro passou e nada. Não vem mais, pensou. Saiu. Precisava andar, jogar os pensamentos em Nina fora. Se conformar.

Um carro parou em frente à sua casa. Ele se virou para olhar. Uma mulher desceu do carro e disse: Jonas, eu vim trazer a resposta de sua carta à Nina. Jonas emudeceu. Era Nina. Linda como sempre foi. O rosto maduro dava ainda mais charme à beleza que ele tanto amou e sonhou. 

Ela se aproximou e perguntou: para onde você está indo? Ele ainda sem fala, só sinalizou que não sabia.

Nina sugeriu: -por que não vamos à lua? Você me prometeu!

Um abraço sem fim garantiu a viagem e o casamento três meses depois. No dia 11/11/2011.

E você, acredita em um amor sem fim?

 

20 comentários:

Unknown disse...

Oi, boa tarde 🌹
Realmente, adorei a história 👏👏👏
Fiquei emocionada 😸 Confesso que sou uma romântica incurável.
Parabéns 👏🎈👏👏🎈🎈

Pantera2012 disse...

Parabéns por mais um conto de amor.
Obrigada por nos oferecer sonhar mesmo diante dos desafios.
Excelente

Vida disse...

Que história incrível!
Fiquei impressionada e acreditando ainda mais no sentimento amor.

Rochele Takatani disse...

Parabéns gente, que história mais bonita. Me emocionei do começo ao fim.
Aqui na maior torcida para alguma coisa juntar eles. Vivi com eles!

Dinah Ribeiro disse...

Acredito no amor e q história linda

Pauline Duka disse...

Emocionante a história. Nos ajuda a acreditar que quando tudo parece terminar,
nada acabou. Parabéns!

Lea disse...

Acredito em amor sem fim. Amor até "depois de depois, que espera até o fim do mundo", como a sonhada resposta de Nina por Jonas. Bela história!
Parabéns!

Cecília disse...

Gente! Vocês querem me matar de emoção?
Cada história mais bonita que a outra. Adorei o casal!
Parabéns!

Denise disse...

"Tão bom morrer de amor!E continuar vivendo..." Mario Quintana
Essa é a história que a gente torce por um milagre!
Bonita demais. Parabéns!

Renata disse...

No meio de tanta ódio uma história linda de amor, que faz a gente torcer e vibrar com a felicidade dos outros. Mesmo que de qem nunca ouvimos falar. Nina e Jonas, vivam muito para descontar o tempo perdido.
Blog está de parabéns!

tartarugas paraliticas disse...

Simplesmente fantástico texto! Um dia terei coragem de contar minha história de um amor platônico, meu primeiro bem único amor, que depois de 50 anos se tornou realidade!

Observadores e atores da vida. disse...

Cinco Cantos agradece a visita e as opiniões de desconhecido, Pantera 2012, Vida, Rochelle, Dinah, Pauline, Lea, Cecilia, Denise, Renata e tartarugas paraliticas.
A história, real, é realmente comovente e emocionante.
Nos sentimos honrados com a presença de todos voce e, em breve, novas historias.

Observadores e atores da vida. disse...

Tartarugas paralíticas, vamos, coragem, você imagina quantas pessoas
podem se sentirem animadas e esperançosas com sua história?
Emoção nã é para se guardar. Divida conosco e teremos muito prazer em publicar.
Garantimos o anonimato. Coragem!
nosso email é observadorecincocantos@gmail.com

Steven disse...

Caríssimos Cinco Cantos, obrigados por nos trazer uma história com tanta emoção. Faço parte do time de Jonas, que chora por amor e bebe até a última gota com paixão. Espero mais histórias assim, que nos leve a acreditar nessa força chamada amor. Abraços.

Navena disse...

Meu marido e eu já lemos essa história muitas vezes hoje, só pela emoção de saber que o amor venceu. Não importa o tempo, não importa a idade, a maturidade, como diz o texto, dá charme ao nosso coração.
Parabéns. Recebam meu abraço e meu amor.

Eduardo Chiarini disse...

Historia bonita, comovente e profunda sobre a permanência do amor verdadeiro.
Parabéns Cinco Cantos pelas belíssimas historias que tem nos apresentado.
Tudo é possível quando o amor está na frente.
Emocionante.

Alex disse...

Muito boa! Amor que e verdadeiro. não tem fim, nisso eu acredito.

Ione Maria disse...

Amor verdadeiro supera e espera. Muito bonita a história desses dois.
Que sejam muitos felizes!

Tobias disse...

E bom ver como o amor é forte, capaz de romper barreiras. História linda! Parabéns aos envolvidos.

Observadores e atores da vida. disse...

Cinco Cantos agradece a visita e as opiniões de Steven, Navena, Eduardo, Alex , Ione e Tobias.
Realmente uma bonita historia, com um forte e corajoso amor, como protagonista.
Em breve teremos mais historias e contamos com a participação de todos.
Abraços.

Paixao.com

    “ Conheci um amor virtual, amor tão lindo quanto o real, sempre mando recados e depoimentos, mesmo distante tocou meus sentimentos.” ...