Mesmo
nessa época de pós-modernismo em que vivemos, as mulheres ainda encontram
barreiras para impor seus direitos e vontades.
Você
pode imaginar há 70, 80 anos? Vamos calcular que tudo era cem vezes mais
complicado.
Mas, os
sonhos das meninas de hoje são os mesmos das meninas de ontem.
Se
rebelar tinha um preço e poucas tinham a coragem de pagar por ele.
Nossa
história vai nos contar sobre uma menina corajosa que ousou não apenas sonhar,
mas ir atrás de tudo que pensava existir.
Só
pensava, não tinha certeza. Mas era demasiadamente inteligente e observadora, e
dizia a si mesma que certamente havia um mundo maior do que a vila em que
morava.
A família era pobre mas não lhes faltava o essencial.
Não era
dinheiro o que Ágata almejava. Era bem mais. Ela queria conhecer o mundo
que vivia em sua imaginação.
Queria
saber ler, ler os livros que o padre lia na missa.
Decidiu
que iria aprender a ler, e era com ele mesmo, o padre!
Um
domingo, depois da missa o procurou e falou de sua vontade de aprender a ler.
Disse que tudo que sabia era que tinha que
juntar as letras.
O padre
ficou meio surpreso, mas diante da determinação da jovem, lhe disse que no
final da tarde passaria em sua casa, e se os pais permitissem, poderia começar
a lhe ensinar algumas letras.
A
alegria foi imensa depois do que ouviu. Deu vontade de abraçar o padre, lembrou
que era pecado, mas lhe beijaria a mão, dez, cem, mil vezes...
O
padre, amigo de todos na vila, cumpriu o prometido. Na hora do cafezinho estava
lá, saboreando o bolo fresquinho e o café feito na hora.
Com
todos sentados na sala, o padre mostrou como iria ensinar a Ágata.
Iniciariam aprendendo as letras de A a Z e depois iam juntar uma a uma
e assim por diante. O padre se despediu e disse que no outro domingo viria
ensinar mais.
Ágata
agradeceu. — Precisa mais não padre, agora eu já sei como é que faz. Vou quebrar a cabeça e até domingo eu
quero ler umas letras.
Todos
riram do disparate da jovem. Mas não acreditaram quando ela, mesmo devagar,
letra por letra leu sua primeira palavra:
D-e é De u-s é us = Deus
Saiu
correndo e repetindo: − Deus! Deus! Deus! Eu sei ler, Eu sei ler, minha
gente!
Se
sentia grande, dona do mundo. Já sabia ler, estava na hora de ir para a
capital.
Falou
com os pais e quase apanhou.
— Está maluca?
Quer virar mulher da rua? Deixa de bobagem e te aquieta. Tu vai é lavar roupa
amanhã cedo junto com tuas irmãs.
—
Pensando o quê? -Disse seu pai com o aval da mãe.
“Que
tristeza! Esse povo não entende nada. Também, não sabem nem ler como eu” – Se
queixava sozinha.
No rio,
lavando roupa com as irmãs, conversava com outras amigas de destino parecido.
Cada uma contava suas vontades, e uma das amigas comentou que os patrões iriam
morar na cidade grande, quem dera ela pudesse ir também, mas não podia, os pais
não deixavam.
Ágata,
atenta, não deixou passar essa novidade. Correu até a casa dos patrões da amiga
e perguntou:
— É
verdade que vocês estão indo morar na cidade grande?
— Sim,
é verdade. Por que? – Perguntou a patroa da amiga.
—
Porque eu queria muito ir morar na cidade grande, trabalhar por lá, a senhora
não precisa de uma ajudante? Sei fazer de um tudo, e até sei ler, disse
orgulhosa.
A
mulher se interessou, disse que iria pensar e achou a ideia boa. Falou com os
pais de Ágata, que concordaram, pelo prestígio que a senhora tinha e o dinheiro
que ajudaria na casa.
Na
cidade, tudo parecia como nos sonhos de Ágata. Grande e bonito. Se empenhou nos
afazeres da casa e conquistou a patroa.
Tudo
que quebrava na casa Ágata consertava.
Consertava
as roupas das crianças, dava jeito em tudo.
Virou
cobiça das amigas da patroa que pediam Ágata emprestada para arrumar as coisas
consideradas perdidas.
Não
demorou e ela começou a estudar costura. Em pouco tempo era uma costureira
muito procurada.
Logo
encontrou um namorado. Casaram e tiveram duas filhas.
Ágata
já tinha sua estabilidade e algum dinheiro guardado, quando o marido, que não
se mantinha em nenhum trabalho por muito tempo e sabendo dos sonhos da mulher,
falou que ela ganharia muito mais e ele também se fossem para uma cidade maior. Isso o ajudaria.
Propôs
à Ágata de ir primeiro. Se estabeleceria e depois viria buscá-la com as
crianças. A proposta pareceu interessante e ela aceitou. Deu suas economias ao
marido e começou um novo sonho.
As notícias
vindas do marido eram boas. Tudo estava às mil maravilhas e em breve iria
buscá-la.
Passados
dois anos da promessa, a espera se tornou incômoda.
Justamente
Ágata, dona de uma cabeça que não parava de girar e pensar.
Achou
estranho, e como nunca esperou as coisas virem até ela, resolveu ir conferir as
promessas do marido. Já que estava tão bem.
Foi e
chegou de surpresa. O marido quase morreu. Estava na companhia de outra mulher; a quem Ágata mandou
ir procurar o que fazer.
Ela era
destemida e impulsiva, não tinha medo de nada.
A
conversa com o marido não foi boa, e alí ela percebeu que errara acreditando
nele. Mas, estava disposta a recuperar o tempo perdido.
Começou
sua busca. Ele a chamava de analfabeta, dizia sempre que tinha vergonha dela e muitas outras ofensas que
só a estimularam mais ainda.
Não
tinha vergonha de sair de porta em porta mostrando seu trabalho, acompanhada
das duas filhas, porque não tinha com quem deixar.
Não
demorou e fez amizades, gente boa nesse mundo de Deus ainda tem − dizia
ela.
O seu
trabalho era tão perfeito que logo conseguiu emprego numa loja de noivas. Era
especialista em roupas de noivas e seus adereços.
O
marido sempre tentando administrar o dinheiro da mulher, mas, ela, absoluta e
determinada, decidiu cuidar de si e de suas meninas.
Ele não
trabalhava e as brigas eram constantes e acaloradas. Ágata, pelo seu
temperamento, perdia o controle fácil.
Um
amigo do marido notou essa nuance em sua personalidade e aconselhou o amigo a
provocá-la e assim pôr em prática um plano de interná-la como louca.
Ele
ficaria com as crianças e com o que Ágata havia conquistado com seu trabalho.
Tudo
pronto. O plano foi posto em
prática, e ele a provocou ao seu limite. Ágata perdeu o bom senso, quebrou
coisas, ameaçou o marido, falou tudo que lhe estava guardado dentro de si.
A
ambulância a encontrou assim e a levaram para o hospital. Enquanto mais ela se
indignava, mas a tinham como doente.
Já mais
calma, intuiu que estava fazendo o jogo errado. Que deveria lutar sim, mas com
a arma que sempre lhe ajudou: a inteligência.
Já
estava no hospital psiquiátrico há
quase dois anos, não havia recebido nenhuma visita das filhas, só notícias
dadas pela médica.
Dos
remédios não tomava nenhum. Precisava de sua lucidez e de sua mente tranquila.
Sabia que não seria fácil, mas tinha certeza que encontraria uma forma de
provar sua sanidade.
Cada
dia mostrava-se mais calma. Em suas visitas à médica, passava a tranquilidade que precisava demonstrar. A
médica a elogiou, ficou orgulhosa do tratamento que havia ministrado e ela só
concordava, garantido a vaga no grupo de terapia ocupacional.
Era
tudo que ela queria!
Em uma
das visitas ao grupo, a médica se aproximou de Ágata para saber de seu
desenvolvimento. Ágata disse que precisava lhe mostrar algo.
Tirou
da sacola vestidos de noivas em miniatura e lhe perguntou:
—
Doutora, o que a senhora acha disso? - a médica encantada com o que via, disse
que era uma obra de arte. — Uma pessoa louca seria capaz de fazer isso
que a senhora chama de obra de arte? – Questionou Ágata.
A
médica olhou para ela e perguntou o que ela queria dizer.
— Estou
dizendo que fui eu que fiz. Que
tenho feito isso por muitos anos e esse é meu trabalho. Gostaria muito que a
senhora ouvisse minha história. A médica a chamou até o consultório e a
ouviu.
Disse
que acreditava nela mas lhe deu um desafio maior para ter certeza de que ela mesma havia feito o que lhe mostrara.
O
desafio foi cumprido com louvor, e Ágata não só ganhou alta do hospital
psiquiátrico, como também ganhou uma aliada na luta que começaria para reaver
suas filhas e sua vida.
Ágata olhou o tempo perdido como aprendizado, se conheceu melhor
e valorizou pequenas coisas.
A gana
por lutar pelo que queria só aumentou. Depois de uma batalha judicial teve suas filhas de volta, seus direitos e o seu trabalho que
tinha sido interrompido no meio do caminho.
Ágata
descobriu ser verdade um mundo maior do que a vila em que morava quando
criança, maior até do que ela mesma.
Descobriu-se
Dona de si.
Descobriu
que os sonhos não estão apenas na cabeça da gente, mas também na palma de
nossas mãos.
E você,
onde estão seus sonhos?
18 comentários:
Uma força incrível dessa mulher. Temos isso sim, esse poder de nos reinventar.
História linda de persistência. Ótimo exemplo de coragem, a coragem de sermos Donas de nossos sonhos. Parabéns Cinco Cantos!
Maravilhoso! A conquista, a força na luta pelo espaço que Ágata, sabia merecer.
Muito lindo, emocionante
Que história inspiradora!
Os meus sonhos estão logo ali.
Uma história marcante e inspradora. Ágatha repreenta nossa força e nossa coragem. QUantas vezes temos que nos reinventar? Gostei a forma que ela deixa pra trás as quedas e segue adiante. Boa sorte sempre, Ágatha!
Àgatha, sem perceber, sempre soube que os sonhos estavam na palma de sua mão.
Soube ir atrás. Lutou, perdeu, ganhou, caiu e se levantou de forma
extraordinária, usando a sua inteligência. Nós mulheres, sabemos que nossos sonhos estão em nossa força. Parabéns, ao pessoal do blog. Mando meu amor a vocês!
Tiro o chapéu para a coragem das mulheres. A história de Ágatha é uma confirmação do quanto as mulheres são capazes de se reeguerem.
Existe uma força mágica que as conduzem de um modo fascinante!
Feliz o homem que tem uma mulher ao lado, sustentando suas fraquezas.
Os meus sonhos estão nas mãos de minha amada mulher desde sempre, sem medo!
Quanta sabedoria e superação.
Ensina os com seu exemplo e conduta.
Parabéns pelo conto tão lindo que dá suporte a todos que anseiam por começar vida nova.
Amei🙌🏻🥰💖
Belíssima história, que a mim comprova, um sentimento que tenho sobre o poder e a força das mulheres em geral.
No caso especifico Ágata demonstra isto em duas oportunidades, a primeira quando resolve ir atrás do seu sonho de um mundo maior, através da leitura e do trabalho; e a segunda quando supera enormes dificuldades da vida, de forma sublime e com muita inteligência.
Parabéns ao pessoal do blog.
Uma ótima história. Muitas pessoas provocam outros até o limite com o objetivo de fazer deles loucos. Por isso, é bom tentar agir de cabeça fria sempre. Muita gente quer que percamos a razão para que elas tenham razão. Gostei muito, obrigada pelo texto!
Belo e reflexivo ! Parabéns 🌻
Linda história de superação e coragem!
Soube usar as armas que tinha. Se superou e venceu.
Uma história que serve de exemplo e incentivo.
Cinco Cantos agradece a visita e a opinião de Lea, Tobias, Dinah, Vida, Pauline, Navena, Steven, Pantera, Eduardo, Alecrim, Elke, Cecilia e Ione.
Uma história de superação e inspiração no sentido de buscarmos sempre nossos objetivos e sonhos.
Lembramos que as historias são reais e que em breve publicaremos mais uma.
Contamos e agradecemos a presença de todos.
Agradeço o convite p participar deste lindo espaço.
Homens e mulheres livres, sempre.
Very inspiring! Everybody dreams...but not everybody has the strength to chase after those dreams to make them come true. I believe we all have this ability within ourselves - to go farther, to do more, to be brave...I hope Agata's daughters took an example in their mother and grew to be just as strong and resiiient!
Cinco Cantos agradece a visita e a opinião de Jorge e Alex.
Ágata tem uma historia inspiradora e se supera em diversas ocasiões, indo atrás de seus sonhos e projetos sem se deixar abater.
Lembramos que as historias são reais e convidamos para a leitura de nossa nova historia " Até que PARA SEMPRE nos separe".
Cinco Cantos thanks Jorge and Alex for their visit and opinion.
Ágata has an inspiring history and surpasses herself on several occasions, going after her dreams and projects without letting yourself down.
We remember that the stories are real and invite you to read our new story "Até que PARA SEMPRE nos separe".
Chocada por ela não ter desistido de tudo. Incrível história de superação e vitória
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