quarta-feira, 3 de maio de 2023

Paixao.com

 

 


Conheci um amor virtual, amor tão lindo quanto o real, sempre mando recados e depoimentos, mesmo distante tocou meus sentimentos.”

Em tepo de pandemia, conversar com os amigos, conhecer novas pessoas, só  tinha um jeito: Pracinha virtual!

Muitas amizades foram feitas e desfeitas assim. Encontros e amores também.

Quantas pessoas se apaixonaram através das redes sociais? Quantas choraram e quantas se decepcionaram?

Muitos amores de brincadeiras, de mentiras, cada um sendo o que queria ser, tentanto sair da solidão obrigatória.

Entre verdades e mentiras, muitas paixões, muitos amores nasceram e se firmaram ali.

A Vitrine Virtual é uma faca de dois gumes. Corta para o bem ou corta para o mal.

Dentre tantas histórias – algumas guardadas em segredo - nasceu sem quê nem pra quê, o romance entre Helene e Daniel.

Daniel, vindo de dois casamentos, filhos adultos e cheio de projetos pós- pandemia.

Passeava nas redes com seus bem elaborados tweets, mais precisamente, pelos elogios que recebia.

Inteligente, intelectual e muito vaidoso, caía em cortesias com as mulheres, em sua maioria carentes de afeto, de amizades...

Não tinha intenção séria com nenhuma, pelo que dizia, mas seu jeito conquistador, atraía muitas amizades femininas.

Helene, havia terminado um namoro no início da pandemia. Em seus trinta e poucos anos, nunca havia se apaixonado de verdade, como manda o figurino.

O fim do namoro de cinco anos, não teve efeito colateral. Se sentia livre e quase feliz, apenas com alguns traumas trazidos de um relacionamento abusivo bem no começo de sua vida adulta.

Não se impressionava com as perguntas de Daniel sobre sua vida e os emojis distribídos por ele todos os dias, ao que respondia.

Mas, não ficou indiferente ao seu olhar. Dedicava algum tempo tentando decifrar o que aquele olhar queria dizer.

Não levou muito tempo e lá estavam os dois, falando deles um para o outro.

O bom humor dos dois era marca registrada, e a expressão casamos virou regra a cada coincidência, e isso fazia os dois se falarem cada vez mais.

Esforço dos dois lados para estarem juntos quase todos os dias, até que  a frequência passou a ser diária.

Nenhum dos dois querendo assumir o que aparentemente sentiam, até que um dia, um gosto comum aos dois, virou tema da conversa.

Helene, já acreditando que o que sentia era especial, e totalmente encantada com aquele sentimento diferente, não mediu esforços para surpreender Daniel com um presente referente ao gosto comum dos dois que haviam descoberto.

Começaram a viver momentos de muita emoção, embora houvesse uma espécie de medo um do outro, o que foi desaparecendo rápido.

Mesmo nas redes em mensagens abertas, os dois já não escondiam mais o carinho que sentiam um pelo outro.

Não deu para segurar mais. Assumiram que estavam apaixonados e começaram a viver aquele sentimento e fazerem planos.

Daniel pensava em mudar-se do país e Helene trabalhava  viajando muitas vezes. Não pensava em casar-se e ter filhos. Daniel também não, como já tinha filhos, não buscava mais esse sonho.

Helene se sentia feliz em ter encontrado alguém que não a criticasse ou cobrasse a obrigação de casar e ter filhos.

Planejavam viajar ao país em que Daniel moraria futuramente. Ele fazia a planilha e Helene compartilhava com idéias e opiniões. Sonhavam juntos.

−Olha só, querida, encontrei esses três hoteis −  Dizia mostrando as fotos e o panorama da cidade.

−Lindo, amor. Esse aqui é nossa cara – dizia Helene escolhendo um.

E assim eram todas as coisas que faziam juntos. Em pouco tempo tinham uma parceria única, um acrescentando ao outro.

Helene dava suas opiniões em tudo que Daniel lhe apresentava e ele, por muitas vezes era seu terapeuta. Orientava, partilhava experiências e foi parte fundamental no amadurecimento e recuperação de Helene.

Para o futuro, planejavam que Helene teria seu lugar na casa de Daniel, e ele teria um lugar na casa de Helene. Duas casas onde compartilhariam a paixão quando estivessem juntos em qualquer um dos lugares.

Se davam bem. Um adorava conversar com o outro e dividiam seu dia a dia em relatórios diários no início de seus encontros. Assim, um participava da vida do outro, como fazem os namorados.

A família de Helene já conhecia Daniel através de troca de emails e de tudo que Helene relatava. Esperavam apenas o dia de recebê-lo em casa.

Como nem tudo é perfeito, existia um porém entre os dois: o ciúme de Helene e o jeito conquistador de Daniel.

Apesar de ter melhorado bastante, as antigas admiradoras provocavam Helene e isso a aborrecia.

Ele dizia que nenhuma delas tinha importância, e ficava um tempo comportado, tempo em que Helene vivia no céu.

Mas esse prazo tinha validade, e se expirava rapidamente. Daniel, sentindo falta de alimentar sua vaidade, voltava sempre ao comportamento que Helene tanto odiava.

Era um estresse para os dois. Ele se aborrecia e cobrava confiança. Ela não conseguia confiar, uma vez que ele havia tentado muitas vezes falar em privado com as amigas que ela lhe apresentava.

Era constante em pouco tempo, essas amigas contarem sobre as investidas de Daniel, que dizia eram sem nenhuma intenção.

Helena, obviamente, não conseguia crer, imaginando que se eram inocentes, por que escondido?

−Que inferno, amor, essa RS ainda vai nos separar – Reclamava ela.

−Está bem, querida, vamos ver se conseguimos vencer isso. Tudo que me interessa é você – dizia Daniel.

−Não parece. Se você sabe que uma coisa me aborrece, fazer aquilo pra quê? Estamos há dois anos juntos e você ainda não aprendeu nada de mim.

Brigavam mas não conseguiam se largar. Helene era de fato apaixonada. Era a primeira vez que sentia algo tão forte por alguém. Mesmo brigando se tratavam com carinho, apesar da raiva explodindo.

Se reconciliavam rápido, mas logo depois, sem aviso prévio, Daniel começava tudo de novo, acrescentando a isso, a questão de continuar morando na mesma casa com a ex mulher e dormindo na mesma cama que ela.

Dizia que seria até ele mudar-se. Que dormiam na mesma cama mas conversavam apenas o necessário, que a própria ex não queria muita proximidade.

Helene tentava acreditar, mas muitos pontos dessa costura começavam a serem observados por ela.

Como fazia um tratamento “TEPT-Transtorno de estresse pós-traumáutico,” resultado do relacionamento abusivo no passado, relatou todos seus medos e desconfianças ao Terapeuta e começaram a trabalhar isso.

Ficar com ele, Daniel, era muito bom, mas essa situação a deixava insegura, instável em suas emoções. Queria acreditar, pedia o mínimo, e ele sempre prometia mas não conseguia cumprir.

O Terapeuta deu seu parecer à Helene. Falou que acreditava que o casamento de Daniel podia estar desgastado pelo tempo ou outras divergências, mas que ainda existia. E que ele não estava sendo feliz e nem disposto a deixar de fazer o que a incomodava.

A aconselhou pensar melhor, sair da relação que ao seu ver era um passa tempo para Daniel e talvez fosse até um estímulo para o seu casamento.

Helene teimava em se enganar para continuar na relação, sem no entanto acreditar no que tanto queria.

Tinham conversas longas sobre o assunto e logo tudo ficava tranquilo e os dois seguiam em seus planos de ficarem juntos.

Conversavam sobre tudo, tinham um nível equivalente de idéias e assuntos. Vez ou outra, a situação voltava ao ponto nevrálgico que era o não cumprimento das promessas dele e os ciúmes dela.

Muitos outros pontos começaram a surgir o que tornava Helene cada vez mais insegura.

Os dois tinham uma parceria incrível e isso também os segurava numa conexão enorme.

Helene sentia que havia qualquer coisa que não estava sendo clara. Talvez com ele ou com ela. Só sabia que tinha alguma coisa fora do lugar.

Quando dormia sempre tinha sonhos perturbados e sabia que alguma coisa não se encaixava. Estava se sentindo chata, e não se sentia uma boa companhia inclusive para ela mesma.

Para evitar esse sentimento, fechava os olhos e ouvidos para algumas coisas. Mas sabia que tudo estava por um fio.

Uma noite foi dormir muito tarde se avaliando. Se colocando no lugar de Daniel, estava muito apaixonada e não queria vê-lo pressionado e nem achava justo pagar um preço alto por um relacionamento sem uma medida de troca justa.

No dia seguinte chegou mais cedo do trabalho e foi em sua rede social. Em seguida foi nas redes sociais dele, inclusive uma que raramente ía. Pela curiosidade, viu o que não queria.

Um comentário da suposta ex de Daniel o chamando de amor, em seguida, viu que ele, mais uma vez, não cumpria o combinado, o que a fez se sentir péssima.

Sabia que não pedia muito, não tinha ciúmes dos amigos ou da família, pedia apenas que alguns poucos casos isolados fossem mantidos à distância.

Lembrou das palavras do Terapeuta, de que talvez fosse uma forma de ele dizer que já não estava interessado em viver um casal com ela, que pedia exclusividade e não confiava nem se contentava com o que estava lhe sendo oferecido.

Chorou tudo.

Precisava ser honesta com ela e com ele também. Deixá-lo livre para viver com quem quisesse, fazer o que quisesse. Mas sabia que seria difícil, mas, difícil também estava daquela maneira.

Tomou a decisão mais dolorida até então. Conversaria com ele. Não mais para cobrar nada, só daria liberdade aos dois.

Se acalmou, se controlou e foi ao encontro.

Na pracinha virtual onde se encontravam todos os dias, sempre no mesmo horário, a conversa começou com o relatório dele, que como sempre, disse no final:

−Então, querida, é sua vez. Não me esconda nada, nadinha… (brincadeira que sempre fazia)

−Nadinha? –perguntou ela.

−-Nadinha!

−Está bem – disse Helene, iniciando a conversa propriamente dita.

−Então começo por ontem e termino hoje, está bem?

Falou de sua noite que não foi boa, relembrou os primeiros encontros, o sentimento forte, a admiração, a parceria, os acordos anteriores, seus valores... Enfim, de tudo que haviam vivido e do amor que ela ainda sentia.

O tranquilizou de que estava bem e contou o que viu e a conclusão que chegara.

−O que você viu lhe incomodou? –Perguntou Daniel continuando –Pelo que entendi você está terminado comigo e está convicta e certa de que isto é o melhor pra você, correto?

−Convicta e certa de que é o melhor pra mim, para você. Para nós dois  −Disse ela.

Conversaram mais um pouco fingindo normalidade e ele pediu para se despedir.

Se despediram sem os beijos, sem as manhas dos apaixonados deixando a possibilidade de uma amizade entregue ao futuro.

No coração de Helene não ficou mágoa, apenas uma dor e uma saudade que ela prometeu a si mesma superar.

O Jardim que acolheu tantos momento bons e outros não tão bons, está vazio e sem a perspectiva de ser ocupado novamente.

Se esse amor foi real ninguém sabe. Mas se sabe que existiu.

O futuro? Este ficou no passado ainda presente apenas nas boas lembranças.

"Sonhos que morreram na praia..."

sexta-feira, 24 de março de 2023

Enquanto a Cegonha Não vem...

 


Enquanto a Cegonha não Vem...


 "Corro perigo como toda pessoa que vive, e a única coisa que me espera é exatamente o inesperado"

Quando chegamos ao mundo, aterrissamos no desconhecido. Resta torcer para que essa aterrissagem seja dentro de um coração.

O ideal da vida seria passarmos por todas as etapas que nos levassem ao amadurecimento naturalmente, sem sofrimento nem dores.

Mas, nem sempre é a vida que dita as regras do jogo, nós nos encarregamos de ultrapassar a linha e ditamos as regras sem calcular o preço.

Na fase criança, fazemos isso sempre, mas temos a sorte de sermos apenas criança e termos por perto alguém para nos segurar.

Na fase adolescente, pensamos ser donos do mundo. Acreditamos que nada vai acontecer além daquilo que queremos.

Em nossa visão, nossos pais envelhecem repentinamente e já não sabem o que é melhor para nós. Afinal, temos o dominínio de nossas vidas e somos as pesssoas mais inteligentes do mundo. Imortais até.

Era exatamente assim o pensamento de Nicole, nos seus 17 anos de idade.

Morava com sua mãe e padrasto. Achava que ele, embora a criasse como a uma filha, não tinha o direito de lhe exigir nenhuma obediência.

Passava longe a vontade em obedecê-lo. Isso custava grandes brigas em casa.

Defendia suas péssimas escolhas de amizades com todas as forças, e não ouvia a ninguém, nem dava atenção aos alertas que os pais lhe davam.

Fugir da escola para namorar escondido era uma aventura maravilhosa. Se sentia a pessoa mais esperta do mundo.

Se apaixonava muito facilmente. Entre uma e outra paixão, chorava e sofria, sempre culpando o destino. Mas logo se recompunha e lá estava ela, amando para sempre.

A luta de sua mãe e padrasto para que ela terminasse a escola era gigante, mesmo assim não terminou.

Jurava que as faltas não a prejudicavam, afinal de contas, era suficientemente inteligente para aprender sem se esforçar.

Conhecia tudo de celular e computador, só não percebia o quanto sua escrita denunciava sua fuga das aulas.

Namorou um garoto envolvido com drogas, e ousou ajudá-lo, enfrentando o padrasto e a mãe. Um tormento superado a alto custo.

Nicole, minha filha, veja bem: eu já não tenho como te defender. Você quer acabar com o meu casamento? Você não me ouve, não ouve ao seu pai...

− Que inferno! Ele não é meu pai e você quer que eu viva como uma velha dentro de casa. Esqueça! De jeito nenhum vou ficar trancada.

− Escute aqui garota! – Interrompeu Seu Olavo − Já chega, entendeu? Você ainda é menor de idade mas mesmo assim, se quiser morar aqui é dentro de nossas regras. Se não quiser, procure sua turma e suma!

Sumiu.

Saiu de casa sem se importar com nada. Não precisava deles. Tinha amigos, um novo namorado... estava tudo certo!

Agora seria livre, faria tudo o que quisesse. Escolha que não foi positiva por muito tempo.

Tentou trabalhar e conseguiu apenas serviços esporádicos. Não parava em lugar nenhum. Era rebelde, mesmo precisando do emprego.

Sobraram então os amigos com a mesma capacidade e que dependiam de suas famílias. As amizades foram cortadas, ficaram poucas, bem poucas.

Restou o novo namorado mais imaturo do que ela. Tinha somente o conforto da companhia dele em lugares incertos. Tinha os beijos, os carinhos, o sexo alimentado pela força dos hormônios inerentes aos adolescentes.

A euforia passou logo. Os dois queriam novas aventuras. O garoto explicou que o “amor” acabou. Nicole aceitou sem drama e logo buscaria uma nova paixão.

Tentou encontrar alguém, mas lhe faltava ânimo. Estava muito envolvida com enjôos e outros efeitos de uma gravidez surpresa.

Procurou a mãe e contou a novidade, pedindo para voltar. A mãe falou com o marido que não a aceitou de volta, ainda triste pela maneira como ela saiu e todo transtorno que havia provocado.

Nem se Nossa Senhora pedir! Disse Seu Olavo.

Não adiantaram os argumentos da mãe de Nicole.

Não. Não e não! PONTO! Decretou, para angustia da mãe e indiferença de Nicole.

Ih, mãe, esquenta não. Vou trabalhar, ter meu bebê e muita gente vai me ajudar. Vida que segue!

Só não contava que entraria para a escola da vida muito cedo, uma escola que a ensinaria muito e de onde não tem como fugir.

Muitas pessoas disseram para ela não ter o bebê, ou doar para uma família que pudesse criar com carinho.

Resolveu ter o bebê e aprender todas as lições sozinha, já que não sabia muito sobre o garoto, pai de seu filho. Nem seu nome completo ou endereço.

Esperava o filho com a mesma alegria que esperava pela boneca nova, no tempo - não muito longe - em que ainda brincava com elas.

Não sabia exatamente como seria de verdade. Mas acreditava que seria fácil, e em sua cabeça adolescente, venceria todas as dificuldades.

Primeira lição: na vida real, a gente precisa comer, beber e ter um lugar para dormir.

Segunda lição: dinheiro não cai do céu e não nasce em árvore.

Terceira lição: nem tudo é fácil como parece e “as muita gente” que se conta, na verdade nunca aparecem.

Essas três lições a fizeram crescer num passe de mágica.

A cada dia dormia em um lugar diferente, e os trabalhos, sempre pesados, eram suficientes apenas para garantir o pão nosso de cada dia.

Passeava nas lojas de roupas de criança e sonhava com tudo aquilo para seu bebê. A frustração a fez enxergar o quanto foi tola em acreditar em seus super poderes.

Procurou pessoas da família, que sem muita delicadeza lhe fechavam as portas.

Depois de dormir na varanda da casa de uma tia que lhe negou abrigo, lembrou de uma amiga dessa mesma tia, que conheceu quando era bem-vinda por lá.

Era uma pessoa boa, com filhos criados e seu marido era uma pessoa boa também, talvez a ajudasse, pensou.

Arriscou um contacto com ela. Contou sua história sem negar suas falhas.

Dona Cida, que já conhecia um pouco a Nicole, foi conquistada pela franqueza da garota e por lembrar que havia sido mãe adolescente também. Sentiu empatia por ela e se arriscou.

Conhecia a fama da garota através da amiga e mesmo assim lhe deu atenção.

Conversaram muito e sentiu o quanto a garota era despreparada, e decidiu ajudá-la, avisando no entanto, quais seriam as normas. A menina aceitou.

Nicole acatou os conselhos de Dona Cida e reconheceu que errou. Entendeu que hulmildade é uma grande aliada quando se foi derrubado pela própria arrogância.

Tinha poucos meses para se por de pé, com apenas um suporte oferecido pela nova amiga.

Juntas, começaram a procurar uma saída de trabalho, de sobrevivência para ela e seu bebê.

Dona Cida teve uma idéia que poderia ajudar, mas dependia de disposição e de muito trabalho por parte de Nicole. Porém, avisou que “não lhe daria o peixe (...)”

Nicole era vaidosa e bonita, gostava de se maquiar. Dona Cida sugeriu  que fizesse um curso de maquiagem, a fim de se profissionalizar nessa área.

Assim, com a ajuda que receberia do governo, alugaria um espaço para morar e atender uma futura clientela.

Para pagar o curso e o primeiro mês de aluguel de uma quitinete, Dona Cida lhe ajudou. Mas sabia que abrir totalmente a mão nesse momento poderia levar Nicole ao comodismo. Deixou claro que seria uma ajuda única, um empurrão para um começo.

Nicole trabalhava à noite como garçonete em um pequeno restaurante e fazia o curso durante o dia.

Ganhava pouco, mas isso lhe ensinou a economizar e administrar seu dinheiro. Agora sabia quanto valia cada centavo.

Estava tão bem no curso de maquiagem, que os colegas e professores a incentivaram a mostrar seu trabalho na Internet.

Trabalhando em casa, ela mesma cuidaria de seu bebê, o que seria uma boa economia e uma grande vantagem. Sabia que levaria anos para conquistar seguidores, mas, era uma tentiva.

Seu bebê, um menino, estava quase chegando. Dona Cida organizou um chá de “Mamãe e Bebê.”

Para o Bebê, fraldas, e a para a mamãe, produtos de maquiagem.

Ela e seu marido, presentiaram Nicole com um celular novo. Do aparelho velho, ela fez uma rifa e faturou mais do que o celular valia.

Estava confiante e bem mais consciente dos desafios que viriam pela frente.

A mãe e o padrasto, anonimamente, mandaram presentes para o bebê e algum dinheiro. Tinham medo de estragar aquela mudança. Esperariam mais tempo para participar dessa nova etapa.

Deus se fez presente na aterrissagem de Mateus. Não foi fácil sua chegada, o que despertou em Nicole sua espiritualidade e fé.

Começava alí, a vida real de Nicole e Mateus, que a ensinou o que é amar de verdade. Amor inteiro. Sem volta.

Namorar? Diz não ter pressa, precisa amadurecer mais e ter mais segurança. Dona Cida continua os conselhos e os puxões de orelha.

As duas tem uma relação de respeito e carinho.

Nicole está seguindo a cartilha da batalha, pondo em prática tudo que tem aprendido e sabe que ainda tem muito a aprender.

Agora, aos vinte e quatro anos, a vida só está começando. Traz junto muitas lições e novos desafios. Sabe bem a diferença de um bebê real e uma boneca.

Qualquer dia, quando estiver pronta, Nicole quer mostrar sua história em seu canal de trabalho, para que outras meninas que a acompanham, entendam que a vida só é cor-de-rosa para quem sabe pintar.

“Um brinde ao inesperado. E às diversas formas de seguir em frente!”

 

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Destino: Loucura

 


“Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.“

Contos e histórias de amor sempre despertaram o interesse de Catarina. Era sonhadora e sempre idealizou um príncipe, um amor chegando de repente e virando sua cabeça.

Em suas fantasias sempre havia um grande amor, desses que não existem, que moram apenas no castelo da ilusão.

Na adolescência os namoros eram sempre decepcionantes. Amor que não durava mais que poucos dias. Cada novo encontro era um desencanto, uma desventura.

Entrou para Universidade e se concentrou nos estudos. Já não tinha tempo para sonhar, construir castelos. A meta agora é contrução de verdade, de tijolos e cimento.

Estudava engenharia civil e parecia feliz com a escolha. Tinha até esquecido essa loucura de amar, se apaixonar, viver um conto de fadas do tempo de adolescente. Agora era vida com os pés no chão, nada de sonhar acordada.

Em um período de férias, viajou para ver sua família que morava em uma outra cidade distante de onde estudava.

O reencontro foi uma festa, matando saudades, cheio de abraços daqueles que tiram o fôlego e nos deixam renovados.

Um mês revendo os amigos, os conhecidos, os lugares onde construiu tantos sonhos nas nuvens do pensamento.

Ria sozinha e pensava: que loucura! Tanta imaginação inútil...

Catarina  encontrou-se com algumas amigas e comentavam sobre os dias passados, das conversas cheias de risos  e a tentativa de adivinhar como seriam os donos de seus corações.

Lembra, Nídia, como você se apaixonava por qualquer um que fosse boninho?

Lembrar eu lembro, só que quem vivia no mundo da lua era você!

As duas riam e se acusavam num diálogo divertido e fantasioso.

Falando sério disse Nídia Em sua nova cidade você não encontrou nenhum maluco não?

Que nada! Essa doideira que a gente pensava não existe não. Era tudo coisa de nossas cabeças vazias.

Os dias voaram nesses tempo de completo desligamento da vida real.

Hora da despedida.

Catarina voltava à terra já cheia de saudades. O descanso foi bom e a deixou com mais saudades do que estava antes. Mas, vida que segue.

O vôo atrasou. Ficou inquieta. Queria chegar logo. Procurou um lugar para tomar um café, comprar um livro, uma revista, qualquer coisa que fizesse o tempo correr.

Comprou algumas revistas e sentou-se o mais confortável possível.

Colocou os pés na mesinha de descanso à sua frente. Tudo certo e normal não fosse o rapaz na cadeira da frente fazer o mesmo.

Um susto para os dois. Risadas dobradas e, claro, desculpas pra lá e pra cá.

O moço mais desinibido se apresentou:

Sou Carlos Eduardo. Cadu para os amigos. Muito prazer!

− Prazer! Eu sou Catarina, para os amigos e para os inimigos também. Meu nome é difícil, se cortar é um desastre. Então serei eternamente Catarina.

Bonito nome. Se quisesse poderia te ajudar a encontrar um nome menor, mas, sinceramente, me recusaria. Catarina combina com você.

Ih... Está me cantando? (risos)

De jeito nenhum. Foi um elogio sem pretensão. Acredite. Me excedi.

Esquece, não sou de levar nada muito a sério não.

O tempo correu como relâmpago e chegou a hora de embarcar.

Durante a viagem, Catarina ficou pensando naquela conversa descontraída.

Achou interessante o jeito daquele rapaz. Tentava se concentrar nas revistas mas não conseguia. Tentava então adivinhar quem era, como era, e no muito que não perguntou.

Cadu ainda ficou no aeroporto por mais um tempo. Enquanto esperava pensava naquele encontro tão animado e que passou tão depressa.

De repente gritou consigo: IDIOTA! Como você não perguntou coisas importantes, telefone, cidade... essas coisas, seu elefante?!

Os dias passando e um e outro se lamentando pela oportunidade perdida de não terem trocado contato.

Catarina tentava se concentrar nos estudos, sem sucesso. Cadu tentava encontrar uma forma de descobrir algo sobre Catarina, com menos sucesso ainda.

Sim, mas por onde começar? Em qual cidade morava aquela pequena que lhe roubava grande parte de seu pensamento? Epa! Teve uma idéia Sim, tinha uma pista: a cidade do aeroporto. Talvez morasse por perto.

Começaria por lá. Restava saber quantas Catarinas moravam ali, se a “sua” Catarina vivia naquela cidade.

Era assim que se referia a ela: “minha” Catarina. E era ela que queria encontrar.

Viajou até a cidade do encontro. Começaria pelo catálogo telefônico. Encontrou muitas e muitas “Catarinas.”

Ligaria para todos aqueles numeros um a um? Não! Certemente que não. Sequer sabia o ultimo nome dela. Seria um vexame.

Deitou de costas totalmente desanimado. Apesar do pouco tempo passado, talvez ela nem lembrasse mais dele. Desanimou.

Sentiu um aperto no coração, aperto de desilusão. Levantou-se e decidiu que faria alguma coisa custasse o que custasse. Talvez um outdoor?

“Alô, Catarina do aeroporto, ligue para Cadu!”

Não, muito piegas. Ela lhe pareceu simples, moderna...

Moderna, isso!! Quem sabe jornais ou redes sociais?

Hum... muita exposição. Não. Teria que ser algo mais discreto, inteligente.

E se procurasse na empresa de aviação que era a mesma que a dele? Talvez funcionasse. Iria tentar. Estava ali para fazer qualquer coisa. A ideia de ter perdido Catarina de vista lhe deprimia.

Foi até o aeroporto e procurou o Estande da Companhia.

Boa tarde! Disse ele cumprimentando a recepcionista.

Boa tarde! Respondeu a simpática funcionária. Como posso lhe ajudar, senhor?

Simples. Preciso de um favor muito simples. Há alguns meses encontrei uma amiga neste aeroporto.

Na verdade, continuou  eu não a conhecia antes. Falamos, trocamos conversa mas não trocamos nenhum contato. Eu preciso encontrá-la. Tenho o dia e a hora do vôo e foi com esta companhia que ela viajou. Tudo para lhe facilitar. Posso contar com sua ajuda?

-Bem, senhor, eu adoraria lhe ajudar. Mas entenda, temos normas na empresa e mesmo que tenha esses dados, por motivo de segurança não  poderia  lhe informar. Me perdoe.

- Não posso perdoar. A senhorita tem namorado?

Sou casada, senhor.

- Perfeito! Se casou foi porque ama seu marido. E se ama deve entender meu sofrimento.

- Sofrimento? O senhor acabou de me dizer que a viu uma vez, mal sabe o nome, e já está sofrendo?

- Bem, eu não sei o que sinto. Só sei que preciso encontrá-la novamente e não tenho idéia do porquê dessa necessidade. Me ajude!

- Não posso, Senhor. Sinto muito. Mas posso lhe dar uma idéia.

- Tudo que a senhora disser. Farei tudo sem ao menos pensar.

Espere ao lado e logo que sair do meu horário lhe darei uma sugestão.

Cadu esperou um bom tempo sem perder a paciência. Tinha uma esperança e sabia que as mulheres tem boas intuições e as melhores idéias do planeta. Então esperaria o tempo que fosse necessário.

Finalmente, a funcionária ficou livre e conversaram. Ele contou as idéias que havia tido, inclusive as que achou ridículas.

Ah, senhor, não tem como enfrentar o amor sem encarar o ridículo às vezes. Se quer, precisa aceitar as regras do jogo.

- Aceito, eu aceito! – Respirou fundo, fechou os olhos esperando o que teria que fazer.

- Diante de seu desespero que me parece sincero, a única coisa que posso fazer é lhe informar o destino do vôo na data e horario que o senhor me informou. Ajuda? E depois? Perguntou Cadu, aflito.

Depois o senhor faz alguns outdoors com sua foto, espalha em alguns pontos estratégicos da cidade, mais ou menos assim:

 “Moça do vôo tal da cidade X para cidade Y no dia tal. Sou o rapaz mais desligado do mundo que falou com você. Mande um contato para Caixa postal (...) com algum detalhe daquele dia. Preciso lhe falar com urgência.

PS: juro que sou normal.”

O outdoor fez sucesso e as pessoas comentavam. Uma semana depois Catarina tomou conhecimento e foi checar a coincidência sem acreditar que poderia ser ela a moça do outdoor.

Ficou incrédula. Que cara louco! Pensou.

Era ele! A foto dele. Riu descontrolada e ligou para sua amiga Nídia e contou tudo.

- Garotaaa! O cara é maluco total! Não sei o que fazer.

- Vai na caixa postal e dá plantão e surpreende ele sugeriu Nídia.

- Não tem como, sua doida, a caixa postal é do outro lado do País. Eu estudo, esqueceu?

- Escreve então. E digo o quê?! Perguntou Catarina meio perdida.

Pensa aí, amiga, uma hora a idéia vem. Vou pensar algo e te falo.

Não foi preciso. Catarina lembrou de um detalhe. No outdoor não tinha o nome dele. Teve certeza que esse seria um grande detalhe. Assim, escreveu:

“Oi, Cadu. Sou a moça do võo mais maluco que fiz. Anote meu contato (...)

Assinado: Catarina, para os amigos e inimigos.”

A essas alturas, Cadu já estava arrependido de ter seguindo as “instruções” da desconhecida amiga. Os engraçadinhos encheram a caixa postal de brincadeiras.

No meio de tantas piadas encontrou as duas linhas que lhe fizeram esquecer todo aborrecimento: a nota de Catarina, clara, com tudo que ele queria saber.

Estaria certo ou seria uma brincadeira dela? Tentaria.

Tomou banho, se fez bonito como se fosse para um encontro real. Ensaiou a voz, as frases, precisava parecer inteligente. Respirou, e ligou com o coração aos pulos.

Ninguém respondeu. Esperou um pouco e tentou novamente. Ocupado.

Droga! Será o destino me avisando alguma coisa? Pensou.

Ligou mais uma vez decidido que seria a ultima tentativa.

 – Alô! Era ela.

Com a voz tremendo Cadu perguntou: quem está falando?

A pessoa para quem você ligou (risos).

- Ah, desculpe, Catarina. Estou meio sem graça de lhe incomodar.

E por que? – Perguntou Catariana.

Sinceramente não sei respondeu Cadu mas te garanto que não sou esse paspalhão que está perdido, sem graça e atrapalhado.

Catarina com seu bom humor o deixou à vontade.

Conversaram muito e no final já estavam falando do quanto pensaram um no outro.

As conversas se repetiram outras tantas vezes e descobriram muito mais do que pensavam. Se descobriram ligados, um querendo ao outro.

Se encontraram  e se finalizaram numa descoberta rara: suas almas estavam ligadas por algum motivo que desconheciam.

A cada dia, continuam se descobrindo ainda mais, e afirmam com certeza que querem viver assim, juntos.

A filha dos dois é o selo de garantia que nada é por acaso, e que o amor, sim, o amor pode estar em qualquer canto deste planeta.


“Tinha sido amor à primeira vista, à última vista, às vistas de todo o sempre.” – Vladimir Nabokov


 Homenagem de Catarina a Cadu, no Aniverário de 15 anos de casamento.


Paixao.com

    “ Conheci um amor virtual, amor tão lindo quanto o real, sempre mando recados e depoimentos, mesmo distante tocou meus sentimentos.” ...